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Refugiados que vivem nos EUA têm dificuldade para reencontrar famílias

Trump fixou em 45 mil pessoas o teto para a entrada de refugiados nos EUA em 2018, menos da metade do limite imposto por Obama em seu último ano de mandato; estimativas indicam que apenas 17 mil imigrantes devem obter autorização

Por Cláudia Trevisan , Erie e Pensilvânia
Atualização:

ERIE, PENSILVÂNIA - O sírio Samir Dabbah e sua mulher, Safwat Jarkas, entraram nos Estados Unidos como refugiados em 7 de fevereiro, 18 dias depois da posse de Donald Trump. Seu embarque foi cancelado duas vezes, em meio ao caos criado pelo decreto que impedia o ingresso de sírios no país, editado uma semana após a posse do republicano. Quase um ano depois, o casal vive a angústia de não saber se os dois filhos que deixaram na Jordânia serão aceitos nos EUA.

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Assim como milhares de refugiados, eles enfrentam dificuldades provocadas pelo endurecimento das regras de entrada nos EUA. Trump fixou em 45 mil o teto máximo para recebimento de refugiados no ano fiscal de 2018 - iniciado em outubro e com fim em setembro. É menos da metade dos 110 mil que haviam sido estabelecidos por seu antecessor, Barack Obama, para o mesmo período. No entanto, se o resto do ano mantiver o ritmo do primeiro trimestre, é possível que o país não receba mais do que 17 mil pessoas, segundo a ONG Comitê para Refugiados e Imigrantes dos EUA (USCRI, em inglês). Seria a mais baixa cifra desde 1975, data de início dos registros mantidos pelo Departamento de Estado.

Samir e Safwat com o filho mais velho, Bassam, em Erie, na Pensilvânia; veto de Trump impediu outros dois filhos do casal de entrar nos EUA Foto: Cláudia Trevisan/Estadão

Samir e Safwat tinham uma fábrica de reciclagem de alumínio em Damasco e deixaram a Síria em 2011, quando dois de seus cinco filhos estavam prestes a ser convocados pelo Exército para lutar na guerra civil iniciada em março daquele ano.

Nos EUA, se uniram a seu filho mais velho, Bassam, que chegou como refugiado ao país em 2009, com a mulher e dois filhos. Ela é palestina com cidadania israelense e não podia entrar na Síria, enquanto ele não podia atravessar a fronteira de Israel. Ambos viviam na Jordânia, onde Bassam não via futuro para a família. Os dois outros filhos de Samir e Safwat foram para a Europa e vivem na Inglaterra e na Holanda. Na Jordânia, ficaram a filha Dana, de 21 anos, e seu irmão Ammar, de 24.

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“Eu estou feliz de estar aqui, mas preciso dos meus filhos”, disse Safwat em sua casa em Erie, na Pensilvânia. “Na Jordânia, eles não são residentes permanentes, não podem ter carteira de motorista nem comprar uma casa ou um carro. É muito duro deixar uma filha jovem lá.”

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A dificuldade para reunificar famílias é um dos principais efeitos das restrições impostas pela administração Trump, observou Dylanna Jackson, que há 20 anos trabalha com refugiados e há 5 anos vive em Erie, onde dirige o escritório local do USCRI. Dylanna ressalta que a ida a outros países não é uma opção para os que buscam a reunificação com parentes nos EUA.

Paul Jericho ensina profissão para refugiados em Erie, na Pensilvânia Foto: Cláudia Trevisan/Estadão

Erie tem uma longa tradição de reassentamento de pessoas que foram obrigadas a deixar seus países em razão de conflitos ou perseguição. Paul Jericho, do Centro Multicultural de Recursos Comunitários, estima que pelo menos 10% dos 100 mil habitantes da cidade é de indivíduos que entraram nos EUA como refugiados.

Entre as nacionalidades representadas na comunidade local estão iraquianos, sudaneses, congoleses, somalis, sírios, butaneses, ucranianos, nepaleses e bósnios. Depois de cinco anos, eles podem se tornar cidadãos americanos.

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“A redução no número de refugiados também ameaça destruir a infraestrutura criada nas últimas décadas para dar assistência aos que são reassentados nos EUA”, ressaltou. Segundo ele, a maior parte dessa rede é formada por instituições religiosas que são sustentadas pelo pagamento de um porcentual para cada pessoa que auxiliam.

“A aceitação de refugiados e imigrantes faz parte de nosso tecido social. Nós somos feitos de pessoas de todos os lugares”, disse Ed Grode, que por oito anos integrou o conselho do USCRI. Grode continua envolvido com o tema e vai pelo menos três vezes ao ano à África para visitar campos de refugiados. “Eu sempre tive orgulho de ser americano, mas agora eu carrego uma bandeira do Canadá na minha mochila. Trump degradou a imagem dos EUA no exterior.”

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), menos de 1% do 22,5 milhões de refugiados registrados na agência é reassentado a cada ano. Os demais continuam a viver em campos ou de maneira provisória.

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Os EUA possuem o maior programa de aceitação de refugiados do mundo e receberam 3 milhões de pessoas desde 1975. O auge foi em 1980, no governo Ronald Reagan, quando 207 mil pessoas foram admitidas. Em outubro, o governo Trump anunciou a retomada do ingresso de refugiados, mas impôs um novo veto de 90 dias à entrada de candidatos de 11 países. 

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