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Repressão em Cuba quase triplica em 6 meses, dizem dissidentes

Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, detenções temporárias de opositores aumentaram 175,5%

Por Guilherme Russo
Atualização:

Dados compilados pela Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN) – entidade que registra atos de repressão do regime castrista contra seus dissidentes – mostram que, nos últimos seis meses, as detenções de opositores em Cuba quase triplicaram em relação ao primeiro semestre de 2013.

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As “prisões relâmpago” são consideradas as principais ferramentas do governo de Raúl Castro para reprimir seus opositores. São comuns de ocorrer durante manifestações contra o regime e anteriormente a reuniões ou eventos que possam resultar em protestos, como missas católicas e outros tipos de agrupamentos sociais. De acordo com o mais recente relatório da CCDHRN, publicado na terça-feira pela entidade, entre janeiro e junho de 2014, 5.904 prisões de dissidentes ocorreram em Cuba. No mesmo período de 2013, foram 2.143 casos – uma elevação de 175,5%.

As autoridades cubanas, segundo o diretor da entidade, Elizardo Sánchez, usam as prisões para tirar os dissidentes de circulação, com a intenção de evitar suas reuniões.

“Esses números não são abstratos. Estão indicando uma situação real de deterioração de Cuba, que é geral. Junto com a deterioração da economia também piora a situação política interna: aumenta a pobreza da grande maioria e também aumenta o descontentamento; e é natural que isso se manifeste. O governo, em vez de fazer reformas que o país precisa, somente responde com repressão. Por isso as cifras são tão altas”, afirmou Sánchez ao Estado.

O dissidente afirmou que a repressão é mais intensa no leste da ilha, principalmente contra os integrantes da União Patriótica de Cuba (Unpacu). “Não há correspondentes estrangeiros nem diplomatas olhando. A repressão é 20 vezes mais forte lá do que em Havana.”

O diretor da Unpacu, José Daniel Ferrer, afirmou que sua última prisão temporária, no dia 28, foi “bastante violenta” – e outros 11 dissidentes, incluindo sua filha de 16 anos, foram presos. Ferrer relatou que organizava diante de sua casa, em Santiago, uma exibição de vídeos musicais – que integra uma estratégia da Unpacu para “atrair a simpatia dos cidadãos descontentes com o sistema” posta em prática há dois meses – quando as autoridades chegaram, por volta das 23h30, e tentaram apreender os equipamentos de áudio e vídeo.

Segundo Ferrer, “os vizinhos se interpuseram pacificamente, mas com muita energia, e conseguiram salvar os aparelhos”. Por esse motivo, ainda de acordo com o dissidente, as autoridades arrombaram a porta de sua casa, o empurraram escada abaixo e o algemaram. Horas depois, ele foi libertado e descobriu que telefones, câmeras fotográficas, cabos de energia “e até um controle remoto”, além de US$ 420, tinham sido apreendidos. “Falaram que não vão devolver. Foi um assalto.”

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O dissidente Guillermo Fariñas, ganhador do Prêmio Sakharov de Liberdade de Pensamento que representa a Unpacu em Santa Clara, foi detido quase semanalmente no semestre passado, segundo os dados da CCDHRN. Fariñas afirmou que a repressão contra ele aumentou após a festa do Dia de Reis, em janeiro, em que a Unpacu distribuía presentes para crianças pobres – “sem falar de política”. “A partir de ali, o governo se sentiu ofendido”, disse, afirmando que os dissidentes de Santa Clara têm sido espancados e torturados durante as detenções.

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