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Rússia fatura com bombardeios na Síria

Indústria bélica russa acelera produção para atender a nova demanda provocada pela campanha aérea contra posições do Estado Islâmico

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Pilotos russos deslocados para a base síria avançada de Hmeimim, em Latakia, estão alojados em pequenas células metálicas: um contêiner com uma ou duas camas, armário, mesa, cadeira e, claro, ar-condicionado – na região, a temperatura média, é superior a 30 graus. Não há televisão, internet e, sobretudo, falta tempo: os combatentes estão cumprindo cerca de 80 missões por dia – embora haja períodos em que esse número tenha superado a barreira dos 115 ataques contra o Estado Islâmico.

Em uma jornada intensa, com data não revelada, houve 120 saídas de destruição – durante dois dias seguidos, foram destroçados 116 pontos estratégicos, de centros de controle e comando a campos de instrução, depósitos subterrâneos, estações de energia elétrica e uma central digital de comunicações.

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Um mês depois dos surpreendentes primeiros bombardeios russos sobre instalações do EI – três delas aniquilando alvos em Homs, Idlib e Raqqa – atingidos antes com pouco sucesso pela aviação da coalizão liderada pelos EUA –, a intervenção russa continua intensa. “Nosso pessoal trabalha pesado no ar e em terra. Nossos objetivos são rigorosamente mapeados e as metas estão sendo cumpridas”, disse o general Andrei S. Kartapolov, chefe de operações do Estado Maior russo. 

Em setembro, Assad invocou um acordo bilateral no campo da defesa para pedir apoio militar russo. O presidente Vladimir Putin respeitou “o compromisso” e enviou aviões de combate, armas, suprimentos e pessoal técnico para bases cedidas pela Síria. O plano logístico impressionou analistas ocidentais, principalmente em razão da inesperada eficiência russa. 

A começar pela mobilização. Moscou precisou de 24 horas para enviar quatro cargueiros Antonov-124 lotados com equipamentos. No Mar Cáspio, distante 1.500 quilômetros, há duas fragatas da classe Gepard, lançadoras de mísseis de cruzeiro Kalibr, e duas corvetas de escolta da série Buyan. Não é pouco para uma potência considerada em decadência “e com pequena expressão tecnológica”, de acordo com a análise de 2010 da Universidade da Defesa, nos EUA.

O conflito tem dado bons resultados para a indústria bélica russa. A Corporação de Mísseis Táticos mantém funcionando em três turnos a linha de produção para atender a nova demanda criada pela campanha. A empresa fornece duas das estrelas do arsenal de 15 sistemas de ponta utilizado nos bombardeios contra as unidades do EI.

A bomba KAB-500Se/m pesa 525 quilos, dos quais 450 kg são a carga explosiva. Guiada pela rede Glonass – versão russa para o GPS – pode ser lançada por um avião ou helicóptero voando entre 500 metros e 5 mil metros e a velocidade entre 500 km/hora e 1.500 km/hora. O índice de erro é de 7 a 12 metros em relação ao ponto de impacto previsto.

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A nova geração dos mísseis ar-terra Kh-29M Kedge, passou pelo batismo de fogo na frente síria. A arma preserva a característica principal, a brutalidade da ogiva carregada com 340 quilos de alto explosivo – o suficiente para derrubar prédios, paredes de concreto reforçado, pontes ou afundar navios de 10 mil toneladas. 

O armamento usa variados recursos de direcionamento (laser, TV, radar, sensor térmico) com raio de ação de 10 km a 30 km. Equivalente ao americano Maverick, leva vantagem no preço. O modelo dos EUA sai na faixa de US$ 180 mil. O Kh-29, conforme a especificação definida pelo cliente, custaria de US$ 52 mil a US$ 110 mil.

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