WASHINGTON - Em uma demonstração de unidade do Partido Democrata contra Donald Trump, o senador Bernie Sanders anunciou nesta terça-feira, 12, que apoiará a candidatura de Hillary Clinton à presidência dos EUA e fará tudo o que estiver a seu alcance para que ela seja a sucessora de Barack Obama. O anúncio foi feito em um evento em New Hampshire, o Estado que deu a primeira grande vitória a Sanders na disputa pela nomeação do Partido Democrata.
O senador declarou seu endosso a Hillary 35 dias depois de a ex-secretária de Estado ter obtido o número mínimo de delegados para garantir a candidatura democrata na convenção do partido, marcada para a última semana de julho na Filadélfia. O passo foi dado depois de um fim de semana no qual os ex-adversários chegaram a um acordo para a inclusão de algumas das principais propostas de Sanders na plataforma eleitoral da legenda.
"Vim aqui não para falar do passado, mas para focar no futuro", afirmou Sanders, antes de contrastar as posições de Hillary e Trump em uma série de questões. O senador disse que o candidato republicano têm propostas econômicas desastrosas, que aumentarão da dívida pública dos EUA em trilhões de dólares e beneficiarão os mais ricos, em detrimento da classe média.
Sanders também criticou os "insultos" de Trump a mexicanos, muçulmanos e mulheres e o acusou de possuir um discurso que divide a América no momento em que a união é necessária. O senador e Hillary falaram de um palco emoldurado pelas duas palavras do slogan da candidata: "Stronger together" (Mais fortes juntos, em tradução livre).
Depois de levantar dúvidas sobre a capacidade de julgamento de Hillary durante a campanha, o senador disse na terça-feira que a candidata é uma das pessoas mais inteligentes que já conheceu e será uma presidente "espetacular" caso seja eleita. Sanders prometeu ir a "todos os cantos" do país para que isso ocorra.
"Houve uma significativa aproximação entre as duas campanhas e produzimos, de longe, a plataforma mais progressiva na história do Partido Democrata", afirmou o senador. "Nosso trabalho agora é ver essa plataforma ser implementada por um Senado controlado pelos democratas, por uma Câmara dos Deputados controlada pelos democratas e pela presidente Hillary Clinton."
Hillary fez um discurso no qual abraçou as propostas defendidas pelo senador durante a disputa pela nomeação democrata, entre as quais o aumento do salário mínimo de US$ 7,25/hora para US$ 15,00/hora, a mudança das regras sobre financiamento de campanhas eleitorais, a transformação da matriz energética para fontes limpas, a reforma do sistema de imigração e a transformação do sistema criminal e carcerário.
Como Sanders, Hillary pontuou seu discurso com ataques a Trump, muitos dos quais em tom irônico. A candidata se referiu ao hábito do adversário de usar superlativos para definir suas posições. "Ele usa muitos adjetivos para evitar dar a vocês qualquer especificidade", afirmou.
No fim de seu pronunciamento, Hillary pediu que os seguidores de Sanders entrem em sua campanha com a mesmo paixão que demonstraram durante as primárias democratas.
Desafios. O evento desta terça-feira teve como objetivo mostrar a unidade dos democratas antes de os republicanos nomearem formalmente Donald Trump seu candidato na próxima semana, mas alguns dos eleitores de Sanders na plateia pareciam não estar convencidos a apoiar Hillary. No entanto, gritos de "Bernie" eram ouvidos no ginásio enquanto os primeiros políticos do partido discursavam, fazendo com que os apoiadores da ex-secretária de Estado incentivassem cantos pedindo "unidade".
"É como se ele estivesse desistindo (dos ideais da campanha) ao anunciar o apoio à Hillary", afirmou Steve Rand, dono de uma loja de peças de informática na cidade de Plymouth, em New Hampshire, antes de os dois candidatos subirem juntos ao palco. "Ela defende tudo o que eu sou contra."
O senador usou parte de seu discurso para tentar convencer eleitores como Rand. "Em tempos tão estressantes como este para o nosso país, esta eleição deve ser sobre unir as pessoas e não dividi-las", afirmou Sanders.
Pesquisa divulgada na semana passada pelo Pew Research Center mostrou que 85% dos eleitores do senador pretendem votar em Hillary. O porcentual é superior ao dos eleitores da candidatada que declararam a intenção de votar em Obama depois de ela abandonar a disputa pela nomeação democrata em 2008. Naquele momento, 20% de seus seguidores diziam que votariam no candidato republicano, John McCain. De acordo com os dados do Pew, apenas 10% dos eleitores de Sanders pretendem votar em Trump. / COM AP