Sauditas criam plano esportivo para mulher

Para combater epidemia de diabetes no reino, princesa desenvolve plano no país

PUBLICIDADE

Por Jamil Chade
Atualização:

Na Arábia Saudita, mulheres só viajam, trabalham ou mesmo se casam com a autorização de um homem. Outra batalha é dirigir. Mas um pequeno passo foi dado no mês passado num direção contrária. O governo de Riad anunciou a escolha da princesa Reema bin Bandar al-Saud para comandar o departamento de esporte feminino do país. O objetivo da iniciativa não envolve o desempenho esportivo, mas sim combater uma epidemia da diabetes.

PUBLICIDADE

Reema sabe que introdução do esporte para as meninas promete ser um desafio social. “Temos fronteiras culturais e preciso garantir que as atividades que queremos promover estejam dentro dessas fronteiras”, disse a princesa, filha do ex-embaixador saudita nos EUA. “Mas o que é universal é o bem-estar, fitness e saúde. Todos os homens e mulheres devem ser saudáveis.”

As 13 milhões de meninas e mulheres do reino saudita têm a segunda pior taxa de diabete do mundo. “Os dados são chocantes. Comemos de forma errada e precisamos encorajar as pessoas a se move”, admitiu a representante da nobreza saudita. “Temos um plano de infraestrutura. Mas a forma de pensar afeta como você vai agir. Agora, precisamos mudar a forma que essas garotas pensam. Elas precisam pensar que têm o direito de serem saudáveis.” 

A princesa admite que nem sempre as meninas sabem que têm o direito de fazer esportes. “Para algumas dessas garotas, um dos obstáculos pode ser sua comunidade. Para outras, pode ser até a família. Mas nosso papel é o de criar a mensagem correta e programas que façam os familiares se sentirem confortáveis de que o que estamos fazendo é uma agenda de saúde. Não há nada além disso”, afirmou a princesa.

A princesa garante também que, quando conta seus planos para as mulheres sauditas, a resposta tem sido positiva. “Eu vou abrir portas. Mas se quisermos mudar as coisas, são as meninas que terão de participar. Podemos criar leis e infraestrutura. Mas se elas não participarem, não há sentido. Precisamos incentivar as meninas e explicar que sua saúde é importante para a nação e para suas crianças”, disse. 

Para que essa mudança ocorra, uma nova infraestrutura será criada nos próximos meses. “As mulheres precisam de privacidade”, disse a nova responsável pelo esporte feminino saudita. “As mulheres não querem tirar o véu diante de homens. Não querem compartilhar banheiros, nem os aparelhos de exercício. Existem muitos negócios no mundo erguidos com base na privacidade da mulher, até mesmo nos EUA. No nosso caso, é uma necessidade.”

Um dos próximos passos é o de definir uma lista de modalidades esportivas que, sem muita adaptação, poderão ser praticadas e oferecidas às meninas. No total, serão 14 esportes que estarão nesse programa sem conflito cultural e permitirá incentivar as mulheres a se exercitar. Para conhecer experiências de diversos países, ela tem promovido viagens aos EUA, Europa e o Brasil.

Publicidade

Por cinco anos, a princesa implementou um plano nacional para tornar mais feminino o comércio no país. Entre suas missões, estava a criação de locais exclusivos para mulheres e a geração de postos de trabalho para as profissionais. Ela criou lojas com vestiários apenas para mulheres, atraindo uma clientela considerável. Isso exigiu criar um sistema de transporte para levar as funcionárias desses locais, além de colocar seus filhos em locais seguros. Agora, ela promete fazer o mesmo no esporte. “Estamos em 2016. Não podemos ser obrigadas a escolher entre ter filhos e trabalhar ou fazer exercícios”, disse. 

A iniciativa é um passo considerado como positivo por entidades de direitos humanos que duramente criticam o regime, como a Human Rights Watch. “As mulheres estão mudando o jogo” , disse a ONG. “Mulheres e meninas na Arábia Saudita precisa ser capazes de realizar seus sonhos de participar de eventos esportivos, do primário à conquista de uma medalha de ouro”, afirmou Minky Worden, representante da Human Rights Watch. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.