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Secretário-geral da ONU acusa Síria de crimes contra civis

Ban Ki-moon disse que países devem se unir pôr fim à violência; jornalista britânico diz que bombardeio de Baba Amr é 'sistemático'.

Por BBC Brasil
Atualização:

Em um discurso na Assembleia Geral da ONU em Nova York nesta sexta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, disse que as autoridades da Síria cometeram claros e amplos crimes contra a população civil do país. Depois que Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que seu comboio na cidade de Homs teve acesso negado ao bairro devastado de Baba Amr, Ban disse ter receio de que as forças sírias estivessem executando, aprisionando e torturando pessoas arbitrariamente na região. Ativistas sírios acusaram o governo de atrasar o comboio para esconder evidências de crimes. Ban disse que a comunidade internacional não cumpriu com seu dever e que sua inação encorajou as autoridades sírias na repressão dos civis. O comboio da Cruz Vermelha chegou nesta sexta-feira à cidade sitiada de Homs, na Síria, mas não conseguiu entrar em Baba Amr, um importante reduto rebelde. "É inaceitável que pessoas que precisam de assistência de emergência nas últimas semanas ainda não tenham recebido nenhuma ajuda", afirmou o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, por meio de um comunicado. Kellenberger disse ainda que o comboio de sete caminhões e ambulâncias do Crescente Vermelho sírio vai passar a noite em Homs para tentar entrar em Baba Amr "em um futuro muito próximo". 'Matadouro' Em entrevista à BBC, o jornalista espanhol Javier Espinosa, que esteve preso em Baba Amr durante o bombardeio sírio, disse que o sítio das forças do governo era bastante sistemático, com bombardeios começando às 06h (no horário local) e continuando até as 18h. Espinosa disse que não havia proteção para as pessoas, que tinham que ficar em suas casa e esperar que não fossem atingidos. O fotógrafo britânico Paul Conroy, que também escapou da região com a ajuda de ativistas da oposição no início da semana, disse que Baba Amr se tornou um "matadouro" e comparou a situação aos massacres de Ruanda e Srebrenica (Bósnia). Conroy afirmou que o propósito do bombardeio do distrito pelo governo é eliminar as pessoas e os edifícios e afirmou que, em breve, "não haverá mais testemunhas" dos ataques. Também nesta sexta-feira, o presidente francês Nicolas Sarkozy disse que as autoridades sírias terão que responder a tribunais internacionais por seus crimes contra civis. Falando em um aeroporto militar próximo a Paris, onde recebeu dois jornalistas franceses - Edith Bouvier e William Daniels - tirados de Homs pro ativistas sírios. Bouvier foi gravemente ferida no mesmo bombardeio que matou a jornalista americana Marie Colvin e o fotógrafo francês Remi Ochlik, cujos corpos foram entregues à Cruz Vermelha. Voz internacional Em seu discurso, Ban disse que é chegado o momento de a comunidade internacional falar com uma só voz e disse que a divisão entre os países "fortalece as autoridades sírias em seu caminho violento". Ele também culpou as autoridades sírias por criarem um conflito armado. "O uso desproporcional da força pelas autoridades sírias fez com que o que era uma oposição majoritariamente pacífica resolver pegar em armas em alguns casos", disse. "As imagens que temos visto da Síria são atrozes. É totalmente inaceitável, intolerável. Como, enquanto ser humano, pode-se suportar esta situação?". O embaixador da Síria na ONU, Bashar Jaafari, acusou Ban de ser mal informado e de usar "uma retórica extremamente virulenta que se limita a difamar um governo com base em relatos, opiniões e rumores". Ele disse que combatentes de oposição estão usando civis como escudos humanos em Homs. Mas Ban reafirmou que a comunidade internacional deve insistir para que a Síria dê acesso a Baba Amr para equipes de ajuda humanitária. Controle total O bairro de Baba Amr tem sofrido fortes bombardeios há cerca de um mês. Forças sírias dizem que agora têm controle total da localidade. O correspondente da BBC no Líbano, Jim Muir, afirma que ninguém sabe exatamente quantos civis estão presos em Baba Amr nas últimas semanas de cerco e bombardeio. Das cerca de 100 mil pessoas que normalmente vivem em Baba Amr, apenas alguns milhares ainda permanecem no local. Na quinta-feira, o Exército Livre da Síria (ELS) disse estar saindo de Baba Amr para poupar as vidas dos civis que se recusaram a deixar suas casas. As condições no bairro parecem estar muito difíceis, já que uma onda de frio intenso e neve atinge a região. A eletricidade foi cortada e não há combustível ou aquecimento. Alimentos, água e remédios também estão se esgotando. Os Comitês de Coordenação Local da oposição dizem que 56 pessoas morreram nesta sexta-feira em todo o país, sendo que 32 foram mortas em Homs e 16, na cidade próxima, Rastan. A ONU estima que mais de 7.500 pessoas morreram nos 11 meses de levante popular anti-governo na Síria. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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