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‘Selva’ tem comércio intenso, mesquitas, bares e festas

Ameaçada de desmonte pelo governo, favela ganha estrutura urbana precária de cidade no intervalo de seis meses

Por CALAIS
Atualização:

No momento em que o sol se punha no norte da França na sexta-feira, um megafone foi acionado no campo de imigrantes. Falando em árabe, uma voz masculina irrompeu o descampado tomado de barracos com o chamado à oração islâmica. 

A mesquita é apenas um entre os vários centros religiosos muçulmanos e católicos instalados em tendas da “selva”. Em torno dos locais de culto, a favela se transforma pouco a pouco em uma cidade miserável, com uma escola, uma biblioteca, um teatro, pequenos mercados, padarias, restaurantes, barbearias e até bares e boates. No início da noite, uma avenida principal de chão batido e muita lama borbulha de pessoas, parte oferecendo comércio e serviços, outra parte, consumindo.

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Ali Shan Mohmoud, 24 anos, em Calais há quatro, é um dos comerciantes estabelecidos na favela. Sua loja vende de bebidas energéticas, que ele próprio consome compulsivamente, a luvas para o frio. “Ganho pouco, não muito”, garantiu. Radicado na “selva”, Ali diz ainda sonhar em viver na Grã-Bretanha, mas não parece disposto a arriscar a vida por isso. “Se não der para ir, vou para os EUA.”

Por ora, a batalha mais imediata das ONGs que defendem os imigrantes do local é para impedir o desmonte da zona sul da “selva”. “Nós queremos a abertura de um diálogo com as associações locais”, diz Marianne Humbersot, advogada que presta assessoria ao imigrantes por meio de uma ONG, a No Border, que tem um centro jurídico instalado na favela. “Nós não queremos a ‘selva’, mas nós queremos que as soluções sejam humanas”, argumenta. 

A essas críticas, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, respondeu na sexta-feira: “Não há ideal humanitário na lama e na precariedade”.

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