BARCELONA, ESPANHA - Os principais partidos separatistas catalães decidiram reconduzir o governador destituído, Carles Puigdemont, à liderança regional, informaram nesta quarta-feira, 10, seus porta-vozes, apesar de ainda não estar claro como farão isso de forma legal.
+ Justiça espanhola mantém ex-vice-presidente catalão na prisão
Puigdemont, que está em Bruxelas desde que foi removido do cargo em outubro pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, pode ser preso se voltar ao país. Mesmo assim, ele espera que a maioria separatista do Parlamento o nomeie para o cargo ainda que a distância.
As normas do Parlamento catalão são ambíguas sobre essa possibilidade, mas a oposição unionista afirma que um líder regional não pode governar do exílio.
"É evidente para todo o mundo que para governar na Catalunha é preciso estar na Catalunha. Isso não pode ser feito por WhatsApp, por Skype ou por um holograma", disse Inés Arrimadas, líder do partido Ciudadanos, contrário à independência. "Uma pessoa que está foragida da Justiça e não vive na Catalunha não pode ser o governador."
+ Retrospectiva: Relembre os principais acontecimentos de 2017
O líder separatista obteve na noite de terça-feira o apoio do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) em uma reunião celebrada em Bruxelas entre sua dirigente, Marta Rovira, e o próprio Puigdemont, em nome da coalizão Juntos pela Catalunha (JxCat).
Combinados, os dois partidos somam 66 das 135 cadeiras do Legislativo autônomo, duas a menos do que as 68 necessárias para a maioria absoluta. Há a expectativa de que o outro partido independentista, a Candidatura de Unidade Popular (CUP), que conta com 4 cadeiras, também apoie Puigdemont.
No entanto, o domínio dos separatistas no Parlamento depende de legisladores foragidos ou presos que não poderão votar a menos que sejam libertados ou cedam suas cadeiras para outros membros do partido. O novo líder regional poderá formar um governo com uma maioria simples na segunda tentativa.
A crise
Rajoy convocou eleições regionais antecipadas na Catalunha, realizadas em 21 de dezembro, depois de invocar o artigo 155 da Constituição espanhola e dissolver o Parlamento catalão após os deputados separatistas votarem a favor da declaração da independência unilateral da Catalunha. Ele também destituiu Puigdemont e todos os ministros do governo regional.
+ Sonho separatista dói no bolso de catalães
Apesar de o partido Ciudadanos ter sido o mais votado nessa eleição, a esperança de Rajoy de que os separatistas perderiam apoio nas urnas não se confirmou.
Desta forma, os dois partidos separatistas decidiram eleger um presidente independentista para o Parlamento, quando a nova legislatura assumir no dia 17 - e cabe ao presidente do Legislativo autorizar um candidato a formar um governo nos dias seguintes.
+ Como a Catalunha influencia outros movimentos separatistas na UE
"O desejo de ser livre de Madri está crescendo, está na maioria, e é duradouro apesar das enormes dificuldades que enfrenta", escreveu Puigdemont em artigo publicano na terça-feira no site especializado Político. "Isso demanda atenção e respeito, algo que não ofereceu o governo o governo espanhol e a União Europeia."
As últimas pesquisas apontam que a maioria dos catalães quer o direito de decidir sobre o futuro da região apesar de estarem divididos sobre a questão da independência propriamente dita. / AP e EFE