NOVA YORK - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursará na Assembleia-Geral das Nações Unidos nesta terça-feira, 19, pela primeira vez, e suas palavras talvez possam ajudar a entender a atual (e oscilante) política externa americana.
Prevista para durar cerca de meia hora, de acordo com a Casa Branca, a mensagem do republicano na tribuna da ONU, em Nova York, será a peça central de uma intensa semana para os líderes mundiais. Cada um competindo para deixar sua marca na cena internacional.
Venezuela, Mianmar, Coreia do Norte, Irã: governos de toda parte esperam que Trump faça referência a esses temas e, sobretudo, ao lugar dos Estados Unidos em um mundo especialmente conturbado.
"São discursos sem igual. Uma oportunidade única para o presidente falar com o mundo inteiro", disse Ben Rhodes, assessor do ex-presidente Barack Obama, que ajudou o democrata a redigir oito discursos para serem pronunciados na ONU.
"Uma única linha de um discurso na Assembleia-Geral pode ser indicativa de uma nova prioridade em um tema particular, um novo rumo político, e pode ter repercussões na comunidade diplomática durante meses", acrescentou.
Detalhes
É grande a expectativa em relação ao que Trump dirá sobre suas relações com a Rússia, um tema que afeta sua presidência desde o primeiro dia, assim como sobre mudança climática, depois que o magnata anunciou em junho a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, assinado por 194 países.
Além dos assuntos espinhosos, a tradução de seu slogan de campanha "America First" (América primeiro) para o terreno diplomático ainda carece de muitos esclarecimentos e detalhes.
Em especial agora, que o presidente propôs cortes drásticos de até 30% ao orçamento diplomático, presta pouca atenção ao Departamento de Estado e não se priva de lançar duras críticas à ONU. Há apenas um ano, Trump declarou que a organização não passa de "um clube, no qual as pessoas se reúnem, conversam e passam bons momentos".
Trump teve poucas ocasiões para pronunciar grandes discursos desde que chegou à Casa Branca, e o tom a ser adotado continua sendo imprevisível. Com palavras virulentas e um estilo abrupto em seu discurso de posse, surpreendeu, semanas mais tarde, com uma fala mais moderada no Congresso.
Em seu pronunciamento na ONU, talvez faça menção a emblemáticos discursos, como o do então presidente Franklin D. Roosevelt, ou de John F. Kennedy, que, em 25 de setembro de 1961, pronunciou um vibrante elogio da diplomacia e pediu que se dotasse as Nações Unidas de "uma nova força e de novos papéis".
"O desenvolvimento dessa organização é a única verdadeira alternativa à guerra, e a guerra já não é uma alternativa racional", disse Kennedy na ocasião.
Sem filtro
Quando Barack Obama subiu nessa tribuna em 23 de setembro de 2009, quis marcar uma ruptura com a era George W. Bush. Para responder ao suposto "antiamericanismo" que teria se espalhado pelo mundo, o democrata propôs um "novo capítulo" na cooperação internacional.
Buscando dar sinais de seu apreço pela ONU, Obama elogiou essa organização construída "por homens e mulheres como Roosevelt, vindos de todo mundo", que fizeram "um trabalho extraordinário", mas que também têm dificuldades para permanecerem "fiéis a seus ideais".
Resta saber o peso que os diplomatas darão ao discurso de Trump. A enxurrada diária de tuítes e a alternância entre mensagens de claro teor presidencial e outras que são apenas bravatas colocam o presidente Trump em um lugar pouco comum.
Para Vinca LaFleur, uma das redatoras de discurso do ex-presidente Bill Clinton, "o mundo inteiro viu um presidente (Trump) que se mostrou inúmeras vezes sem filtro algum, e se criou uma ideia do que significa seu 'tom autêntico'".
"Um discurso muito trabalhado corre o risco de ser analisado sob o ângulo de se o que diz reflete realmente o que o presidente pensa", comentou. / AFP