PUBLICIDADE

Sobreviventes do Bataclan se preparam para retorno de Eagles of Death Metal

Mesmo com ingressos gratuitos, jovens que sobreviveram ao ataque terrorista na casa de shows ainda não sabem se estão prontos para rever a banda ou ouvir suas músicas

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

PARIS - A banda californiana de metal Eagles of Death Metal, que estava no palco da casa de shows Bataclan quando homens armados entraram no local e mataram 90 pessoas durante os ataques terroristas ocorridos em novembro em Paris, voltarão à cidade nesta terça-feira, 16, para retomar a apresentação que foi tragicamente interrompida. A apresentação será no teatro Paris’s Olympia antes de a banda retornar para a turnê na Europa.

Mas conforme o momento do show se aproxima, sobreviventes do massacre no Bataclan - que receberam ingressos gratuitamente - tentam se preparar para o desafio que será voltar a ver uma apresentação da banda.

Na noite do dia 13 de novembro de 2015, uma sexta-feira, nove jihadistas do Estado Islâmico iniciaram uma série de ataques em diversos pontos da capital francesa. Naquele momento, a casa de shows Bataclanestava lotada e a banda norte-americana Eagles of Death Metal (foto) se apresentava. A banda e várias outras pessoas conseguiram escapar por saídas laterais do Bataclan no momento em que os jihadistas abriram fogo contra o público. Foto: Kevin Winter/AFP

PUBLICIDADE

Segundo informações do jornal britânico The Guardian, para muitos essa é uma oportunidade para reconstruir suas vidas. Mas alguns deles, que não se sentiram capazes de ouvir as músicas da banda ou ir a um show de rock desde então, temem que ainda seja muito cedo para isso.

“Eu consegui um ingresso, mas não tenho certeza se estou pronto para ir ao show”, disse Alex - que não quis revelar seu sobrenome -, de 26 anos, que chegou a ficar deitado uma hora e meia entre os corpos das vítimas do ataque ao Bataclan.

Ele é considerado um dos sobreviventes “miraculosos” do massacre, que saiu com “apenas uma mancha de sangue nas roupas”. “Todo mundo se sente diferente e isso é muito pessoal. Temo que ainda seja muito cedo para ir ao show”, afirmou.

Desde o dia 13 de novembro de 2015, Alex não se sente capaz de ouvir qualquer música do Eagles of Death Metal, ou mesmo de ir ao cinema, por ser “muito fechado, escuro e barulhento”. Agora, ele sempre procura pela saída de emergência em todo lugar que vai e não usa mais fones de ouvido no metrô, porque acredita que precisa se manter vigilante o tempo todo. “Estudo todo mundo caso se tornem uma ameaça. Se o trem quebra bruscamente ou as luzes acendem, eu logo me coloco no modo sobrevivência.”

Depois dos ataques, Alex escreveu duas postagens angustiantes na internet sobre sua experiência que foram amplamente lidos. Em um deles, o garoto afirma que não conseguirá mais ver a banda, “mesmo se eles oferecerem um show privativo em um bunker presidencial”. Mas ele está aberto a mudar de opinião com a aproximação do dia da apresentação. “Se eu for, será um momento importante, mas não um momento de prazer.”

Publicidade

Lydia, de 27 anos e também sobrevivente do Bataclan, contou ao Guardian que perdeu o emprego no bar em Londres onde trabalhava. “Meu chefe disse que eu precisava seguir em frente e parar de pensar nisso (no ataque), que eu precisava sorrir de novo”, explicou. “Sinto que estou entre a vida e a morte. É muito difícil. Nenhum ser humano deveria ter que ver a morte e carregá-la consigo para o resto da vida. Todas as imagens, gritos, sons e odores continuam voltando.”

Ela garante que irá ao show. “Sempre soube que eu tinha que terminar de ver. Preciso substituir aquela noite por algo melhor.” E ela destaca: “preciso vê-los tocando de novo para saber que os ataques finalmente acabaram”.

Life For Paris, uma associação para sobreviventes e famílias das vítimas, trabalhará para garantir as melhores condições para que eles compareçam à apresentação.

Georges Salines, médico parisiense, perdeu a filha Lola de 28 anos no Bataclan. Agora, ele frequenta outro grupo, o 13 November 2015: Fraternity and Truth, e confirma sua presença no evento. “Quero que esse seja um show de rock no qual se possa dançar e se divertir, e que marque o retorno à vida normal”, diz Salines. “Acho que é uma boa ideia a banda voltar. Eu não vou à missa, então vou a um show de rock.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.