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Conservadores de Merkel e social-democratas chegam a acordo para formar governo de coalizão

Líderes do Partido Social-Democrata (SPD) exigiram da chanceler Angela Merkel, no poder há três mandatos, uma mudança radical em sua política econômica para aceitar um novo acordo de coalizão

Por Andrei Netto CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

BERLIM - O “dogma da austeridade”, que durou uma década, chegou ao fim na Alemanha nesta quarta-feira, dia 7. Quem decretou a mudança foram os líderes do Partido Social-Democrata (SPD), que exigiram da chanceler Angela Merkel, no poder há três mandatos, uma mudança radical em sua política econômica para aceitar um novo acordo de coalizão. A aliança deve permitir a Merkel governar pelos próximos quatro anos.

Os social-democratas devem ocupar os ministérios importantes das Finanças e Relações Exteriores, segundo a imprensa, assim como o de Assuntos Sociais. Na foto, líder do SPD, MartinSchulz (esq.),e chanceler Angela Merkel Foto: AFP PHOTO / John MACDOUGALL

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 A expressão “fim do dogma da austeridade” foi usada pelo líder do SPD e ex-rival de Merkel, Martin Schulz, que será nomeado ao Ministério das Relações Exteriores. Francófilo alinhado com o presidente da França, Emmanuel Macron, ele será o responsável por negociar as reformas da União Europeia. 

No terceiro posto mais importante do governo, um outro expoente social-democrata: o prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, deverá assumir o Ministério das Finanças, um posto-chave para negociar a maior integração econômica dos 19 países da zona do euro. 

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O órgão esteve durante os três primeiros mandatos de Merkel sob o comando de Wolfgang Schäuble, conservador líder da União Social-Cristã (CSU), da Baviera. No auge da crise da Grécia, que ameaçou a estabilidade da UE, Schäuble era chamado de “Sr. Austeridade” e defendeu a exclusão grega da zona do euro.

Merkel, Schulz e Scholz serão os três principais nomes de um quarto governo da chanceler marcado pela forte presença do SPD. Eles serão sete no total – , incluindo as pastas da Justiça, Trabalho e Meio Ambiente –, mais do que os cinco da União Democrata-Cristã (CDU), partido de Merkel, e do que os três da CSU. Juntos, porém, CDU e CSU terão o maior número de altos postos, incluindo Interior, Defesa, Saúde e Educação.

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As duras condições do acordo para que Merkel seguisse à frente do governo haviam sido antecipadas pela própria chanceler na segunda-feira. Em entrevista à revista Der Spiegel, ela se referiu às negociações como “concessões dolorosas” para formar o novo governo. 

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Schulz, por sua vez, preveniu que uma mudança de rumos nas políticas econômica e europeia seriam pré-requisito para qualquer entendimento. “Será um acordo muito importante para a Europa, algo determinante que pode criar novos investimentos, incluindo um fundo para a zona do euro e o fim do ‘dogma da austeridade’”, afirmou.

Depois de uma maratona de negociações que invadiu a madrugada de ontem, o acordo foi oficializado pela manhã, aproximando Merkel do objetivo de manter as rédeas do poder. 

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Ela teve de recorrer ao SPD depois que fracassou na tentativa de coalizão com o Partido Liberal-Democrata (FDP) e com o Partido Verde. O texto do acordo de ontem, de 177 páginas, começa pelo capítulo de reformas da UE, refletindo a prioridade de Schulz. Entre as propostas está a criação de um orçamento de investimentos da zona do euro. A ideia, que é de Macron, envolve a criação do cargo de ministro europeu de Finanças, que gerenciaria esse investimento. 

Mas o acordo ainda precisa ser referendado pelos 463 mil militantes do SPD, a última etapa do processo. Nessa votação, ainda sem data, a aliança enfrentará a residência dos Jovens Socialistas, que lançaram uma campanha contra a coalizão. 

No Parlamento, o acordo foi bombardeado pelo partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), agora o maior da oposição, que acusou Schulz de querer instalar na UE um sistema de transferência de recursos de países ricos para nações em desenvolvimento. / AFP e REUTERS

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