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Steve Bannon, de ‘Seinfeld’ ao texugo do mel

Estrategista-chefe de Donald Trump conquistou independência financeira ao intermediar negociação com o fundador da CNN e investiu na mídia independente, conservadora e radical

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Por Helio Gurovitz
Atualização:

Se Ted Turner, fundador da CNN, tivesse mais dinheiro em caixa, é provável que Steve Bannon, o estrategista-chefe de Donald Trump, não tivesse chegado à Casa Branca. Quando intermediou a venda de ativos da Westinghouse para Turner, Bannon aceitou como pagamento uma participação em cinco seriados de TV. Um deles, ainda na terceira temporada, era visto como pouco promissor. Nada menos que o “show sobre o nada”: Seinfeld, um dos maiores sucessos de todos os tempos. “Calculamos quanto ganharíamos de licenciamento”, disse Bannon à Bloomberg BusinessWeek. “Erramos por um fator de cinco.”

Com a tacada, Bannon conquistou independência financeira e se tornou um produtor de filmes de orientação conservadora - uma espécie de “Leni Riefenstahl do Tea Party”, nas palavras de Andrew Breitbart, com quem depois fundaria o Breitbart.com. A morte prematura de Breitbart, em 2012, deu a Bannon a chance de tornar o site ainda mais radical, abrindo espaço à extrema direita racista, antissemita e defensora do “nacionalismo branco”, conhecida como alt-right. Sem freio quanto ao que publicava, inspirado no predador africano que devora o que vê pela frente, Bannon adotou para o Breitbart o slogan de um vídeo popular na internet: “Somos texugos do mel, não damos a mínima.”

Jared Kushner, genro de Trump, conversa com Stephen Bannon (D), que será o principal estrategista de Trump Foto: REUTERS/Mike Segar/File Photo

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Ele também usa a “mídia tradicional” Engana-se quem vê em Bannon apenas um oportunista, que conquistou o poder à revelia da grande imprensa, cultivando o extremismo lunático das redes sociais. Ele financiou investigações pioneiras sobre as falcatruas do casal Clinton e preferiu publicá-las não no Breitbart, mas em livros e jornais convencionais. “Não vemos a mídia tradicional como um inimigo, porque não queremos que nosso trabalho fique restrito ao ecossistema conservador”, disse. Será a estratégia de comunicação do governo Trump?

Bannon é mesmo antissemita? A Liga Antidifamação e grupos de defesa dos direitos civis condenaram a nomeação de Bannon, apontando conteúdos antissemitas e racistas no Breitbart. Saíram em sua defesa a Organização Sionista da América e líderes da direita israelense. “Não tenho evidência de que seja racista ou antissemita”, escreveu no Daily Wire um de seus desafetos, o jornalista Ben Shapiro. Sobram evidências, contudo, de que os israelenses que o apoiaram querem enterrar as esperanças de Estado palestino.

O maior inimigo da alt-right Conservador, Shapiro deixou o Breitbart em março, depois que Bannon se recusou a defender uma repórter agredida num comício de Trump. Foi enxovalhado nas redes sociais por trolls da alt-right. “Na verdade, eles odeiam mais a direita constitucional do que a esquerda”, diz sobre os líderes do movimento. Veem Trump como a guilhotina que cortará a cabeça de republicanos que consideram traidores.

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Protecionistas e contra a imigração A alt-right encontrou uma agenda comum na imigração com os conservadores e no protecionismo com a esquerda. Mas sua motivação, diz Shapiro, é única. A objeção a imigrantes, legais ou ilegais, não tem base econômica ou cultural - mas racial. A oposição ao livre-comércio não é por acreditarem que prejudica os pobres - mas os brancos.

É preciso fazer justiça a Sessions O senador Jeff Sessions, escolhido por Trump como novo chefe do Departamento de Justiça, é conhecido como ferrenho opositor da anistia a imigrantes - até a programas de imigração legal -, cético das mudanças climáticas, crítico de Wall Street e perdeu um cargo de juiz nos anos 1980 sob acusação de racismo. No Congresso, sempre negociou com os democratas.

Ele previu a eleição e… o impeachment O historiador Allan Lichtman, da American University, desprezou as pesquisas e, como faz há 30 anos, acertou na mosca a vitória de Trump. Ele usa um método com 13 perguntas. Se a resposta a pelo menos seis for “não”, o partido no poder perde - neste ano, foram exatamente seis. Agora, Lichtman diz que o temperamento de Trump pode levá-lo ao impeachment, comandado por republicanos que prefeririam um presidente Mike Pence.

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