Sumiço de submarino argentino afeta popularidade de Mauricio Macri

Morte de índio mapuche também deteriora otimismo da população com presidente da Argentina

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Atualização:

O desaparecimento do submarino ARA San Juan e os erros de comunicação da Marinha durante as buscas provocaram uma queda na popularidade do presidente argentino Mauricio Macri. O Índice de Otimismo, pesquisa realizada pelo jornal Clarín e pela Consultoria M&F, que mede semanalmente a aprovação do presidente, registrou uma queda de 1,4% na aprovação de Macri em novembro.

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“As principais quedas foram observadas no indicador de aprovação do governo, que caiu 2,5 pontos porcentuais, e na preocupação com o momento atual que caiu 1,9 ponto”, afirmou ao Clarín Juan Pablo Hedo, estatístico e consultor responsável pela pesquisa.  

Norberto Rodriguez, familiar de um dos tripulantes do submarino perdido, espera por notícias em Mar del Plata Foto: AFP PHOTO / EITAN ABRAMOVICH

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No total, 37,8% dos argentinos acreditam na capacidade do governo Macri de melhorar a situação do país. O índice era de 58% no começo de 2016. A aprovação de Macri ainda segue em patamares elevados, com 54% de confiança do argentino, ante 59% em janeiro de 2016. 

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A queda parece ser fruto direto de quase duas semanas de exposição à crise causada pelo desaparecimento do submarino ARA San Juan. A pouca transparência das Forças Armadas argentinas na divulgação das notícias sobre as buscas e na comunicação com os parentes respingou no otimismo da população “Macri ainda conseguiu passar quase ileso pela, mas as instituições do governo sofreram”, afirmou Juan Pablo.

As notícias ruins para o governo Macri, no entanto, vão além da tragédia no Atlântico Sul. No sábado, uma reintegração de posse conduzida pela polícia argentina na comunidade indígena mapuche de Villa Mascardi, em Bariloche, no sul do país, Rafael Nahuel, um jovem ativista de 22 anos, foi assassinado com um tiro pelas costas. Outras duas pessoas ficaram feridas. 

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Os membros da comunidade mapuche protestavam contra a reintegração de posse e foram reprimidos por agentes da Polícia Nacional argentina, que dispararam com armas de fogo contra os manifestantes. Muitos ativistas culparam Macri pela violência.

RESGATE. Duas semanas após o desaparecimento do submarino ARA San Juan, e ainda sem sinais de sua localização, o canal de TV A24 revelou ontem a última mensagem entre o submarino e as bases de controle no continente. O texto, enviado na manhã do dia 15 de novembro, atesta que uma entrada de água pelo sistema de ventilação “provocou um curto-circuito e um princípio de incêndio” no tanque de baterias. 

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“A entrada de água do mar pelo sistema de ventilação no tanque de baterias n° 3 causou curto-circuito e começo de incêndio no local de barras de baterias. As baterias de proa estão fora de serviço. No momento, em imersão, (estamos) propulsando com circuito dividido.”

De acordo com especialistas, a água teria caído sobre as baterias de proa, provocando uma falha elétrica e um princípio de incêndio, que seria uma fumaça sem chamas. O porta-voz da Marinha, Enrique Balbi, confirmou o comunicado, mas pediu cautela. 

“O problema foi solucionado, isolaram a bateria e navegaram com outro circuito”, afirmou ontem o porta-voz. “É possível que tenha ocorrido um incêndio ou um arco elétrico (uma descarga) e isso tenha causado uma explosão ou uma combustão rápida que consumiu todo o oxigênio.”

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MAPUCHES. A tensão entre indígenas e latifundiários é crescente na Patagônia argentina. A crise piorou no começo do ano, quando os mapuches, liderados por Facundo Jones Huala, que está preso, invadiram as terras do grupo têxtil italiano Benetton, que controla 900 mil hectares da Patagônia – área equivalente a seis vezes o município de São Paulo. Os inúmeros confrontos entre mapuches e a polícia pioraram nos últimos dias.

No sábado, em uma reintegração de posse, os policiais usaram munição letal e assassinaram Rafael Nahuel. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, defendeu a polícia, dizendo que foi uma “ação legal e legítima”, já que os mapuches usaram “armas de grosso calibre”. Segundo a polícia, a munição indígena “arrancou pedaços de 20 centímetros de árvores”. Um juiz federal investiga o caso e determinou a perícia. A investigação é crucial para os mapuches, porque o apoio popular ao movimento indígena pode sofrer um abalo caso fique comprovado o uso de armas contra os policiais./ REUTERS, AP e AFP

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