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THE ECONOMIST: Por que os venezuelanos mineram tanto bitcoin

Moeda fraca e inflação alta tornam a criptomoeda atrativa para população do país em crise

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Por Redação
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Se você quiser garimpar bitcoins no conforto da sua sala de estar, precisa de três ingredientes: um software livre, um suprimento constante de eletricidade (de preferência barata) e um computador. Cidadãos de muitos países tornaram-se devotos. No entanto, por que os venezuelanos estão entre os mais ávidos mineradores da criptomoeda?

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Homem busca no Rio Gauire joias perdidas ou metais valiosos para vender Foto: FEDERICO PARRA/AFP

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O bitcoin oferece às pessoas em todo o mundo a capacidade de trocar fichas de valor online sem depender de bancos. Todo o registro necessário é descentralizado para um “blockchain”, um livro de registro online que mantém o histórico de transações de todos os bitcoins em circulação. 

Os “cripto-crentes” louvam as virtudes de sua descentralização, destacando que há uma oferta total fixa, impedindo que o símbolo seja desvalorizado por governos tirânicos. Em democracias que funcionam com taxas razoáveis de inflação, há uma aceitação limitada, porque existem muitas outras ofertas e opções para criar riqueza ou para investir. 

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Já os venezuelanos, por sua vez, quase não têm essas oportunidades, porque o bolívar, a moeda local, perdeu 99,9% de seu valor desde 2016. Rígidos controles sobre a moeda estão em vigor há 15 anos, reduzindo a oferta de moedas fortes, como o dólar, que mantém seu poder de compra. Mesmo Jamie Dimon, um conhecido banqueiro que chamou o bitcoin de uma “fraude” que acabará por “explodir”, admitiu que, num lugar como a Venezuela, ela pode ser útil.

Os venezuelanos que podem se dar ao luxo têm máquinas importadas como o Antminer S9, uma engenhoca do tamanho de uma caixa de sapatos vendida por cerca de US$ 2 mil na Amazon, que suga ar fresco e eletricidade e cospe barulho, calor e bitcoins recém-extraídos. E há um setor no qual os venezuelanos têm uma vantagem. O controle sobre os preços da eletricidade subsidia o fornecimento. 

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O alcance dos subsídios do governo significa que, de acordo com dados da Crescent Electric Supply Company, a Venezuela é o lugar mais barato do mundo para se garimpar bitcoins. Os mineradores estão arbitrando, comprando uma commodity subvalorizada (eletricidade) e convertendo-a em bitcoin para obter lucro. 

No localbitcoins.com, um site que permite que a criptomoeda seja trocada por moedas locais em todo o mundo, a Venezuela negocia mais bitcoins do que a China. 

Os mineradores venezuelanos podem ganhar centenas de dólares por semana, uma fortuna relativa. Alguns usam para poupar, outros para comprar os escassos produtos de primeira necessidade.

Infelizmente, o governo percebeu. O presidente Nicolás Maduro não gosta de mineradores de bitcoins e a propriedade do governo chavista sobre a rede elétrica permite localizar e reprimir aqueles que usam as quantidades extraordinariamente altas de eletricidade que a mineração de bitcoin exige. 

Não há leis referentes às criptomoedas. Portanto, algumas pessoas foram presas por acusações falsas, como roubo de energia. O equipamento de mineração foi confiscado por funcionários do governo, alguns dos quais usados em benefício próprio. Embora o bitcoin possa ser uma proteção na tirania dos governos que imprimem dinheiro, outros tipos de tirania permanecem fora de controle. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO  © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER  LIMITED. DIREITOS RESERVADOS.  PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO  ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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