Tribunal português usa religião para justificar agressão de marido contra a mulher

Justiça de Portugal vai investigar decisão inferior; sentença diz 'entender a violência do homem, vítima de traição após ter sido ofendido e humilhado por sua mulher'

PUBLICIDADE

Atualização:
Sentença que citou a Bíblia e lei do século XIXcausou polêmica no país europeu. Foto: Pedro Nunes/Reuters

LISBOA - O Conselho Superior da Magistratura (CSM) de Portugal anunciou nesta quinta-feira, 26, que irá investigar o veredicto de um tribunal de Porto, no norte do país, que "justifica" a violência de um homem pela infidelidade de sua esposa. 

PUBLICIDADE

Inicialmente, o CSM descartou intervir, alegando a independência dos tribunais, mas acabou anunciando a abertura de uma investigação em um comunicado publicado em seu site. 

Os juízes do tribunal de Porto condenaram o homem a 15 meses de prisão e a uma multa de 1.750 euros, apesar de a promotoria pedir três anos e seis meses de prisão para o homem que agrediu a mulher em 2015. 

+ Juiz não vê estupro e solta homem que ejaculou em passageira de ônibus

"O adultério cometido por uma mulher é uma conduta que a sociedade condena duramente", diz a sentença. O texto diz ainda "entender a violência do homem, vítima de traição após ter sido ofendido e humilhado por sua mulher". 

"Na Bíblia lemos que a mulher adúltera deve ser castigada com a pena de morte", recorda o texto, que cita uma lei de Portugal do século XIX que prevê penas leves para um homem que mate sua mulher se ela cometer adultério. A sentença, publicada na segunda, provocou grande polêmica no país. 

+ Leia mais notícias de Internacional

Publicidade

"Estamos perplexas e indignadas", afirma a União de Mulheres Alternativa e Resposta, que condena o veredicto. "Essa decisão legitima a violência conjugal contra as mulheres", afirmou a UMAR em um comunicado que acrescenta que citar uma a Bíblia em uma sentença atenta contra "o Estado de direito em que o país vive". / AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.