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Tríplice Fronteira é vigiada há 20 anos

Por Agencia Estado
Atualização:

As agências da inteligência militar do Brasil, da Argentina e do Paraguai acompanham há pelo menos 20 anos as atividade de pessoas estabelecidas na área da Tríplice Fronteira, no sul do País e ligadas a grupos radicais. Em 1981, os sons exóticos, as comidas incomuns e a dança ondulante só para mulheres das festas árabes patrocinadas no início pelos comerciantes libaneses Jairo Maluf e Ibrahim Cury, em Cascavel, a pouco mais de 100 quilômetros de distância de Foz do Iguaçu, constavam de cuidadosos informes preparados pelos agentes do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) como sendo "eventos de cobertura para arrecadação de recursos pecuniários destinados ao apoio a refugiados palestinos." Maluf e Cury, nascidos em Beirute, eram lojistas do ramo de vestuário em Puerto Stroessner (hoje Ciudad del´Este) do lado paraguaio, e em Puerto Iguazu, na divisa argentina. Em 1992, encerraram seus negócios na área. E deles só se ouviu falar há pouco menos de dois anos, quando voltaram à região pelas mãos do empresário Assad Ahmad Barakat, dono da Galeria Pagé, em Ciudad del´Este. Barakat é um homem do terror, integrante da organização extremista libanesa Hezbollah, suspeito de ter montado os atentados contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992, e contra o Centro da Comunidade Judaica, em 1994. Detido em outubro pela polícia paraguaia, escapou da prisão e pode estar vivendo temporariamente em São Paulo sob identidade falsa, preparando uma rota de fuga segura que o leve até o Líbano, a Síria ou o Iraque, de acordo com fontes da área de inteligência militar brasileira. Um parceiro de negócios e de militância, Salman Reda, indiciado na argentina por transporte dos explosivos utilizados contra a representação diplomática israelense, fugiu no mesmo dia em que Barakat. Ambos têm ordem de prisão internacional emitida. O Brasil mantém um esquema especial de vigilância e defesa no eixo da fronteira desde 1976 por conta da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. A barragem de 190 metros de altura contém as águas de um reservatório seis vezes maior do que a baía da Guanabara. Um colapso no fornecimento de energia paralisaria o complexo industrial do sul e do sudeste. Embora a hipótese do plano de contingência seja a possibilidade de que haja um atentado contra a usina, os serviços de informações encontraram duas redes clandestinas em atividade na região. Uma delas operada por chineses ligados às tríades do crime organizado é responsável pelo contrabando de armas leves. A família Sung-I, de Hernandárias, no Paraguai, é citada em documentos da Interpol e da agência argentina Side como operadora desse mercado negro. Os Sung-I utilizam suas três lojas de artigos fotográficos e produtos eletrônicos para acobertar a venda irregular de armamento de médio porte. Um lote de 30 mil projéteis de vários calibres da munição classe Glaser, de grande poder de destruição, normalmente empregada por tropas de elite em operações especiais antiterror, teria sido fornecido pela rede chinesa ao movimento islâmico Al Gamaa´at Islamyiia em dezembro de 2000. O lote identificado como "suprimentos médicos" foi interceptado no porto de Limasol, em Chipre, dentro de um navio de bandeira dos Camarões, a caminho do Egito. Outro grupo, chefiado pela família Ming, cuidaria da movimentação financeira do Al Gamaa´at, atuando por meio da Guyana e das ilhas Cayman a partir do cone sul, uma área até agora pouco vigiada. Há pouco mais de um mês as três mesquitas em atividade na fronteira Brasil-Paraguai se mantêm em vigília de orações. Em certos momentos do dia chega a haver mais de 300 muçulmanos reunidos em cada uma delas. Coincidentemente, os templos e os fiéis que os freqüentam passaram a ser acompanhados e intensamente fotografados. De acordo com fontes da inteligência argentina, os curiosos são, na verdade, agentes americanos da CIA, ingleses do MI-5, israelenses do Mossad, de corporações policiais multinacionais e dos órgãos de informações regionais, à procura de suspeitos. Leia o especial

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