Em visita a Macron, Trump admite rever posição sobre Acordo de Paris

No primeiro dia de sua viagem à França, presidente dos EUA deixa em aberto possibilidade de retornar ao pacto climático, do qual se retirou em junho

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Por Andrei Netto Correspondente e Paris
Atualização:

Pressionado dentro e fora de seu país, o presidente dos EUA, Donald Trump, deixou a porta aberta nesta quinta-feira, 13, para rever a posição sobre o Acordo de Paris, abandonado por Washington há seis semanas. Em encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, que insistiu na importância de respeitar o pacto para reduzir emissões de gases de efeito estufa, o republicano foi enigmático, mas deu a entender que sua posição pode ser revista. “Vamos ver o que pode ocorrer.” 

As divergências entre os dois presidentes sobre o tratado climático são o ponto central das relações entre França e EUA. O Palácio do Eliseu costurou o Acordo de Paris em 2015, em uma ampla negociação diplomática multilateral que contou com o aval do ex-presidente americano Barack Obama. Como havia prometido em sua campanha, Trump denunciou o tratado e, alegando proteger empregos, informou que não faria mais parte do pacto.

Trump (E) e Macron passam as tropas em revista no museu Les Invalides, em Paris Foto: REUTERS/Ian Langsdon

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Hoje, o assunto foi abordado entre Trump e Macron no primeiro dia da visita oficial do americano a Paris. Em entrevista coletiva, o presidente francês afirmou que não havia conseguido mudar a posição do americano, mas deu a entender que uma “reflexão” estaria em curso. “Respeito a decisão do presidente Trump. Ele vai conduzir a reflexão e o trabalho que lhe convém e corresponde a seus engajamentos de campanha”, afirmou. “De minha parte, continuo engajado com o Acordo de Paris.”

Foi então que Trump surpreendeu, abrindo a porta para uma mudança de posição. “Algo pode ocorrer em relação ao Acordo de Paris. Vamos ver o quê”, disse ele, sem dar detalhes. “Se acontecer, será maravilhoso. Se não, vai ser ok.” 

Ao anunciar que os EUA deixariam o pacto, Trump deu a entender que poderia mudar de ideia caso houvesse uma renegociação dos termos. A Alemanha e a França rejeitaram imediatamente rever os compromissos americanos para manter Washington no grupo. Um sinal negativo é que Trump tem dúvidas sobre o aquecimento global. Macron anunciou, na semana passada, que realizará uma nova conferência em Paris em dezembro para debater os próximos passos do tratado. 

Críticas. Macron foi criticado pela oposição de esquerda por ter convidado Trump a visitar Paris no momento em que o americano vive forte isolamento na comunidade internacional. Na cúpula do G-20, na semana passada, em Hamburgo, os outros membros do grupo deixaram clara a divergência em relação ao republicano sobre o Acordo de Paris e o livre-comércio. 

Ao convidar Trump e sua mulher para uma visita com honras de chefe de Estado, o francês tenta se colocar na posição de interlocutor do Ocidente com os EUA. Hoje, os dois demonstraram que as divergências são pontuais e é possível trabalhar juntos. 

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Na entrevista, Macron disse que a reunião bilateral havia sido de muito trabalho e citou o que chamou de “prioridades comuns”: a luta contra o dumping comercial, que prejudica “o livre-comércio justo”, segundo o francês, a repressão ao terrorismo e sua propaganda e uma “iniciativa diplomática” para a resolução do conflito e o pós-guerra na Síria, além do Iraque.

Macron e Trump deixaram de lado os choques que já tiveram, em especial sobre clima, imigração, fronteiras e livre-comércio. O francês chamou o encontro que ambos os casais teriam na noite de hoje no restaurante Júlio Verne, na Torre Eiffel, como “jantar entre amigos”. Segundo ele, a relação “é forte” e justifica o convite. Os dois assistem hoje ao desfile militar de 14 de Julho, que lembrará os 100 anos da entrada dos EUA na 1.ª Guerra.

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