EUA barram sírios e vetam entrada de qualquer refugiado por quatro meses

Trump anuncia medidas de segurança nacional e afirma que país dará prioridade à acolhida de cristãos que fujam de perseguição religiosa

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

(Atualizada às 2h24) WASHINGTON - Donald Trump anunciou nesta sexta-feira, 27, uma série de medidas que restringem a entrada de muçulmanos no país, entre as quais a suspensão por prazo indefinido do recebimento de refugiados da Síria e a proibição de entrada nos EUA de qualquer cidadão do país por um período de 90 dias. Esta medida também atinge outras nações de maioria islâmica afetados pelo terrorismo.

Trump ordenou que construção do muro inicie imediatamente e que México arque com despesas Foto: Nicholas Kamm/AFP

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As mudanças incluem ainda a interrupção do recebimento de refugiados de qualquer parte do mundo por um prazo de quatro meses, durante o qual as autoridades terão de estabelecer critérios mais rigorosos para a avaliação dos candidatos.

Entre eles, estará o veto a pessoas que praticam “atos de intolerância ou ódio” ou “opressão” em razão de gênero e orientação sexual. O processo também deverá determinar se o candidato tem “intenção de cometer atos criminosos ou terroristas” nos EUA.

Ao mesmo tempo em que restringiu a entrada de refugiados muçulmanos, Trump determinou que seja dada prioridade ao recebimento de cristãos que sejam perseguidos por razões religiosas.

As medidas foram adotadas por decreto, que também reduziu a meta de recebimento de refugiados de todo mundo para este ano de 110 mil para 50 mil. A entrada de refugiados sírios foi classificada como “prejudicial” aos interesses americanos. O veto aos refugiados do país ficará em vigor até que sejam adotadas medidas que supostamente impeçam que terroristas sejam beneficiados pelo programa.

“Estou adotando novas medidas para manter o terrorismo islâmico radical fora dos EUA. Não os queremos aqui”, declarou em discurso no Pentágono. “Só queremos admitir em nosso país aqueles que vão apoiar o país e amar profundamente nosso povo.”

Durante a campanha, Trump afirmou várias vezes que os EUA estavam recebendo “dezenas de milhares” de refugiados sírios, o que não se refletia nas estatísticas. Desde 2012, o país aceitou 14,3 mil pessoas que fugiam da guerra civil, menos da metade das 35,7 mil recebidas pelo vizinho Canadá. A Alemanha foi o destino de 360 mil.

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Filtro. Em entrevista à Christian Broadcasting Network concedida antes do anúncio das medidas, Trump afirmou que cristãos teriam prioridade no programa de refugiados. “Você sabia que se você fosse cristão na Síria era quase impossível ou pelo menos muito difícil entrar nos Estados Unidos? Se você fosse um muçulmano, você poderia entrar.”

Estudo do Pew Research Institute mostra equilíbrio entre o número de cristãos e muçulmanos aceitos como refugiados pelos EUA no ano passado. Desde 2002, o total de cristãos é bem superior ao de muçulmanos.

A redução no número de refugiados representa uma mudança radical da prática adotada pelos EUA nas últimas décadas e a restrição direcionada aos muçulmanos é vista por muitos como uma forma de descriminação religiosa.

Trump também disse que promoverá a “reconstrução” das Forças Armas dos EUA, que já tem o maior Orçamento do mundo. No ano passado, o Pentágono recebeu US$ 600 bilhões, valor semelhante ao PIB da Colômbia. “Nosso poder militar não será questionado por ninguém”, ressaltou.

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O combate ao terrorismo foi um dos principais temas da campanha de Trump, ao lado da crítica ao livre-comércio e a imigrantes sem documentação. Quando candidato, ele defendeu o bombardeio indiscriminado de posições do Estado Islâmico (EI) e disse que tinha um plano secreto para derrotar o grupo em curto espaço de tempo.

Em seu discurso de posse, há uma semana, ele voltou a fazer uma promessa ambiciosa nessa área: “Vamos reforçar nossas alianças e formar novas. Vamos unir o mundo civilizado contra o terrorismo islâmico radical, o qual vamos erradicar completamente da face da Terra.” Havia a expectativa de que ele assinasse ontem decreto dando prazo de 30 dias para seus assessores militares apresentarem um plano de combate ao EI, mas isso não ocorreu.

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