John Bolton, ideólogo da pressão contra Venezuela e Irã, deixa a Casa Branca

Demissão ocorre em meio a divergências sobre como lidar com desafios de política externa americana

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Por Redação
Atualização:

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu John Bolton, seu terceiro assessor de Segurança Nacional, nesta terça-feira, 10. Trump anunciou a saída por meio de sua conta no Twitter, em meio a divergências sobre como lidar com desafios de política externa americana, como o Irã, Coreia do Norte e o Afeganistão.

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Bolton também foi o idealizador da política de pressão total sobre a Venezuela, para tentar derrubar o regime do presidente chavista Nicolás Maduro dando apoio para o líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela no começo do ano.

Em novembro do ano passado, John Bolton  se reuniu no início com o presidente Jair Bolsonaro, na casa de Bolsonaro. Na ocasião, o presidente bateu continência para o então assessor de Segurança Nacional dos EUA e ofereceu a ele um café da manhã com suco e pão com leite condensado. 

John Bolton, demitido pelo presidente dos EUA, DonaldTrump Foto: U.S. Embassy Ulaanbaatar via AP

O presidente disse que nomeará seu substituto na próxima semana. O enviado dos EUA na Coreia do Norte, Stephen Biegun, está entre os nomes mais cotados para substituir Bolton como assessor de Segurança Nacional.

A notícia, conhecida dias depois de Trump revelar o cancelamento de conversas secretas com o Taleban no Afeganistão, surpreendeu Washington.

Bolton ajudou a colocar a América Latina como um dos focos da política externa americana na segunda metade do governo Donald Trump, especialmente as crises na Venezuela e na Nicarágua, além de uma piora nas relações com Cuba. Ao comentar essa nova política, em março, o assessor de Segurança Nacional, John Bolton, declarou que “a Doutrina Monroe estava bem viva”.

“Informei John Bolton ontem à noite que seus serviços não são mais necessários na Casa Branca. Discordei fortemente de muitas de suas sugestões, assim como outros do governo, e, portanto, pedi a John sua demissão, que ele me entregou nesta manhã. Agradeço muito a John por seu serviço. Vou nomear um novo consultor de segurança nacional na próxima semana", escreveu Trump em sua conta no Twitter.

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Bolton, no entanto, rebateu a versão de Trump de que teria sido demitido. Segundo o ex-assessor, foi ele quem pediu demissão. 

Saída em momento de abertura

Sua saída ocorre no momento em que Trump busca abertura diplomática com dois dos inimigos mais importantes ​​dos Estados Unidos, esforços que atrapalharam os linha-dura no governo, como Bolton, que vê a Coreia do Norte e o Irã como não confiáveis.

Trump continuou elogiar Kim Jong-un, o líder da Coreia do Norte, apesar da recusa de Kim em renunciar ao seu programa nuclear e apesar dos repetidos testes de mísseis de curto alcance do Norte que abalaram seus vizinhos.

Nos últimos dias, Trump manifestou vontade de se reunir com o presidente Hassan Rouhani, do Irã, sob as circunstâncias certas, e até de estender financiamento de curto prazo a Teerã, embora a oferta tenha sido até agora rejeitada.

Um defensor da abordagem dura na política externa

Conhecido por seus notórios bigodes, Bolton é uma figura controversa por seu estreito vínculo com a invasão do Iraque e foi considerado um dos principais impulsionadores da abordagem dura de Trump em política externa.

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Ele foi um dos promotores do falso argumento sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein, que levou à invasão do Iraque em 2003. Em 2006, ele teve de deixar o cargo de embaixador americano na ONU depois de apenas 14 meses, em razão da recusa do Senado dos EUA em confirmá-lo para o posto.

Como é frequentemente o caso na presidência de Trump, a partida abrupta do conselheiro de segurança nacional parecia marcada pelo caos. 

O anúncio de Trump no Twitter foi feito logo após a assessoria de imprensa da Casa Branca dizer que Bolton daria uma entrevista coletiva sobre questões de terrorismo ao lado do secretário de Estado, Mike Pompeo, e do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. 

Pompeo, que travou duras disputas com Bolton nos últimos meses, não escondeu o alívio com a decisão do presidente. “Ele deve ter pessoas confiáveis”, afirmou. “Nós tínhamos diferentes visões sobre como deveríamos proceder.” 

O próprio Bolton apresentou sua versão dos fatos, o que parece contradizer a do presidente.

"Eu me ofereci para renunciar ontem à noite e o presidente Trump disse: 'Vamos falar sobre isso amanhã'", tuítou Bolton. / NYT, AFP e EFE

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