Trump dirige força militar para Síria após cancelar ida a cúpula regional

Envolvido em duas crises, presidente americano suspende participação em reunião de Lima para supervisionar na Casa Branca retaliação contra regime de Assad que, segundo os EUA, ordenou uso de armas químicas

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Por Cláudia Trevisan ,  CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Diante de uma crise doméstica e outra internacional, Donald Trump cancelou sua participação na Cúpula das Américas, no Peru, e será o primeiro presidente americano a faltar ao evento desde sua criação, em 1994. A Casa Branca disse que Trump ficará nos EUA para supervisionar a resposta ao ataque com armas químicas contra civis na Síria.

Trump acusa Assad de usar arma química; Síria é alvo de mísseis

Trump desistiu de viajar para cúpula no Peru para supervionar resposta americana à crise síria Foto: AP Photo/Evan Vucci

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Enquanto discutem cenários para um ataque, os chefes militares americanos deslocaram o destróier lançador de mísseis USS Donald Cook para o Leste do Mar Mediterrâneo, nas proximidades da costa da Síria. O bombardeio ordenado por Trump há um ano em retaliação a outro ataque com armas químicas foi feito a partir de navios de guerra semelhantes. 

Na segunda-feira, Trump indicou que tomaria uma decisão até hoje. A ação se torna mais provável porque uma das principais críticas do presidente a seu antecessor, Barack Obama, foi não ter agido militarmente contra Assad depois de traçar o uso de armas químicas como “linha vermelha”.

Ayham Kamel, diretor para o Oriente Médio e Norte da África da consultoria de risco Eurasia, afirmou que a resposta americana deverá ter por alvo instalações militares do regime de Bashar Assad, apesar da retórica agressiva de Trump em direção ao presidente russo, Vladimir Putin, o principal aliado do governo sírio.

Ele ressaltou que a possibilidade de erro de cálculo que leve a um confronto direto entre os ex-rivais da Guerra Fria é maior hoje do que há um ano. “Os russos expandiram sua presença na Síria e estão mais inseridos nas Forças Armadas do país”, ressaltou. Além disso, o grau de tensão entre Moscou e Washington se elevou com a recente imposição de sanções contra oligarcas, empresas e autoridades russas.

O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev se disse “alarmado” com o risco real de confronto entre os EUA e a Rússia. “Ninguém quer uma guerra. Mas incidentes podem resultar em grande desastre no atual ambiente”, declarou à agência Interfax.No dia anterior ao anúncio de Trump de que não iria mais à cúpula no Peru, o FBI realizou buscas em Nova York no escritório do advogado pessoal do presidente, Michael Cohen, em um desdobramento da investigação sobre a interferência da Rússia na eleição de 2016. 

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Apesar da gravidade de um eventual ataque à Síria, analistas avaliaram que a decisão de Trump de não ir à Cúpula das Américas é uma demonstração de que a região não está no topo de suas preocupações. “Isso mostra que a América Latina é uma prioridade de segunda ou terceira linha, se é que é uma prioridade”, observou Peter Hakim, presidente emérito do Inter-American Dialogue.

Em sua avaliação, as expectativas em relação à cúpula se reduziram. “O ponto central desse encontro era ‘América Latina encontra Mister Trump em pessoa’”, afirmou. Hakim respondeu com um número quando questionado o que espera do encontro agora: “zero”.

Jason Marczak, diretor para América Latina do Atlantic Council, disse que a ausência de Trump será “uma perda” para os EUA e a América Latina. “Há muita preocupação na região em relação ao rumo da política América em Primeiro Lugar”, afirmou. 

Na semana passada, Trump, retomou a retórica agressiva de sua campanha contra imigrantes e anunciou o envio de tropas para a fronteira com o México. O presidente também adotou medidas protecionistas que têm o potencial de afetar vários países da região, entre os quais o Brasil. Marczak ressaltou que em seus 15 meses de governo Trump teve “interações mínimas” com líderes latino-americanos e até agora não se encontrou com Enrique Peña Nieto, o presidente do México.