Trump encontra um obstáculo

Ted Cruz pode até ter vencido as primárias de Iowa, mas foi Marco Rubio quem se deu melhor

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Por THE ECONOMIST
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Donald Trump, acompanhado de mulher e filhos puros-sangues, exibiu qualidades admiráveis na semana passada em Des Moines, capital do Estado de Iowa. Reconhecendo a derrota para Ted Cruz nas primárias de segunda-feira, quando até a véspera as pesquisas previam sua vitória, o líder na disputa pela indicação do Partido Republicano à eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos congratulou “Ted e todos esses candidatos incríveis”, agradeceu o esforço de seus militantes, declarou amor aos habitantes de Iowa e disse ter ficado “honrado” com o segundo lugar. Foi um discurso elegante e, em alguns momentos, até tocante. Mas não era humildade que a plateia, visivelmente decepcionada, queria de Trump.

As bravatas são o forte do bilionário. Poucas horas antes do início da votação, os participantes de um comício em Cedar Rapids se deliciaram com a promessa de que, com ele na presidência, os americanos colecionarão tantas vitórias que vão acabar pedindo uma derrota de vez em quando, para a coisa não ficar monótona. É compreensível a frustração com os 24% de votos que Trump conquistou em Iowa, porcentual que o deixou atrás de Cruz, que obteve 28%, e apenas um pouco à frente de Marco Rubio, cujos 23% superaram as expectativas. 

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Apesar disso, não se pode dizer que o balão de Trump tenha furado. Iowa é um Estado onde 60% dos eleitores republicanos são evangélicos – e nunca pareceu terreno propício a um divorciado que destoa do perfil de “homem religioso”. Mas, agora, ele precisa vencer as primárias de terça-feira, em New Hampshire. Por isso, voltou a ser o velho Trump de sempre: na semana passada, ao retomar a campanha, acusou Cruz de ter fraudado as primárias e exigiu uma nova votação.

Rumos da campanha. Trump perdeu em Iowa porque, como costuma acontecer em política, a disputa foi mais normal do que o esperado. Os republicanos compareceram em peso às urnas. Foram as primeiras prévias de que participaram 45% deles – muitos dos quais votaram, conforme o previsto, em Trump. Mas seu impacto acabou sendo amortecido pelo elevado grau de comparecimento dos evangélicos que apoiam a candidatura de Ted Cruz. 

A perseverança do senador texano em convencer seus partidários a sair de casa numa noite gélida conferiu à campanha de Trump um ar um tanto quanto amadorístico.

Do lado democrata, o outsider Bernie Sanders conquistou o coração dos mais jovens. Apesar disso, Hillary Clinton, empurrada por recursos organizacionais mais robustos, conseguiu reunir apoio suficiente entre os eleitores de meia-idade para impedir a vitória do esquerdista – mas foi por pouco. Hillary venceu por uma margem extremamente apertada, algo que não deixa de configurar um vexame: seu adversário é um setentão amarfanhado, cujas propostas para a área da saúde, segundo a Comissão em Defesa de um Orçamento Federal Responsável, deixariam os cofres públicos americanos com um rombo de pelo menos US$ 3 trilhões. Mas, considerando o péssimo desempenho que Hillary teve em Iowa na corrida de 2008 e o fato de que suas chances de vitória em New Hampshire são reduzidas, até que foi um bom resultado para ela.

O apoio a Rubio veio principalmente de integrantes do establishment republicano. Até então, muitos nesse segmento de eleitores “moderadamente conservadores” hesitavam entre o senador da Flórida e outros pré-candidatos que ocupam mais ou menos o mesmo campo ideológico – incluindo Jeb Bush, que teve apenas 3% dos votos. Em New Hampshire, a divisão dos moderados entre os governadores de Ohio e New Jersey, John Kasich e Chris Christie, além de Rubio e Bush, é ainda mais acentuada. Mas a tendência agora é a de que Rubio consolide sua liderança e saia de New Hampshire como o candidato do establishment do partido.

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Caso Trump se recupere e vença as primárias nesse pequeno Estado, é provável que a disputa ainda se prolongue por um bom tempo, com três pré-candidatos brigando pela liderança, pois, ao contrário do que volta e meia ocorre com os republicanos que terminam em primeiro lugar em Iowa, nada indica que Cruz perderá o embalo. Em New Hampshire, ele deve deixar um pouco de lado o discurso religioso, fazer da Constituição sua estrela-guia e torcer por ficar entre os três mais votados. O fato de que tal ambição não pareça despropositada indica o quanto a campanha ainda está longe de seguir um curso normal. O sentimento antiestablishment é forte: Cruz, Trump e Ben Carson, todos empenhados em pôr mais lenha na fogueira, ficaram com 60% dos votos em Iowa.

Tudo indica, portanto, que a fanfarronice populista se intensificará, especialmente no que depender de Cruz. Antes de Iowa, ele tentou conquistar o apoio dos moderados, alegando ser o único pré-candidato em condições de derrotar Trump. Com a derrota do bilionário e o bom resultado obtido por Rubio em Iowa, o argumento perdeu força. Assim, Cruz deve começar a apelar aos partidários de Trump, sustentando agora ser o único em condições de vencer o establishment. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER

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