Trump exalta carvão ao derrubar plano de Obama contra mudança climática

Presidente diz que o objetivo da medida é implementar a independência energética e criar empregos na exploração de carvão, promessa contestada por analistas

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WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu nesta terça-feira, 28, numa cerimônia na Agência de Proteção Ambiental (EPA), é implementar a independência energética e criar empregos na exploração de carvão, ao derrubar a maior parte da regulamentação de seu antecessor, Barack Obama, sobre mudança climática. Especialistas dizem, no entanto, que isso dificilmente ocorrerá. 

Ao lado de operários carvoeiros e membros da EPA, ele determinou que a agência refaça O Plano de Energia Limpa, peça central da política climática de Obama. “Vocês sabem o que é isso, amigos? Vocês voltarão ao trabalho”, disse Trump aos mineiros. 

Trump senta na direção de caminhão de 18 rodas durante encontro do setor automobilístico Foto: EFE/JIM LO SCALZO

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O plano de Obama proibia, entre outras coisas, a exploração de carvão mineral em áreas públicas. O decreto assinado por Trump, no entanto, não tem força de lei para retirar os EUA do acordo climático de Paris, assinado em 2015. Apesar disso, pode fazer com que, na prática, as metas previstas no pacto não sejam alcançadas. 

Trump defendeu o decreto como uma maneira de reviver a indústria do carvão, hoje em decadência, que era muito forte em Estados do meio-oeste cruciais para sua vitória no colégio eleitoral contra Hillary Clinton, no ano passado. “Estamos colocando um fim ao roubo da prosperidade americana e revivendo nossa amada economia”, acrescentou Trump. “Os mineiros me contaram do ataque a seus empregos e eu fiz essa promessa. Eles voltarão ao trabalho.”

Especialistas em economia energética, no entanto, dizem que a promessa de Trump será difícil de cumprir por uma série de motivos. O primeiro deles é que o país já é praticamente autossuficiente em energia em virtude da exploração de gás natural e carvão produzido no país, que alimentam suas termoelétricas. “Nós não importamos carvão. Esse decreto não tem nada a ver com independência energética”, disse Robert Stavins, economista da Universidade de Harvard.

O segundo é que a mecanização da economia americana impedirá a criação de empregos para os mineiros. “As novas minas não contratarão. Veremos um aumento na produção e uma diminuição no número de vagas”, disse Robert Godby, economista da Universidade de Wyoming. 

Além disso, a indústria do carvão tem pouco impacto na economia americana como um todo. Em 2008, empregava 87 mil pessoas. Em 2015, eram 65 mil vagas, segundo estatísticas do Departamento de Energia. Especialistas avaliam também que não foi o Plano de Energia Limpa o responsável pela diminuição de vagas na indústria carvoeira, mas sim o aumento da produção de gás natural , que é mais barato e mais limpo que o carvão e a própria automação das indústrias que exploram carvão.

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“O problema não é a regulação da emissão de CO2. O problema é que não há demanda por carvão”, acrescentou Godby.  O decreto de Trump também elimina uma dezena de diretrizes de Obama para combater o aquecimento global nos Estados Unidos. Uma delas requeria um estudo de impacto de carbono para conceder licenças ambientais para empresas. 

Combinadas, todas essas mudanças devem tornar bastante difícil para os Estados Unidos cumprirem as metas previstas nos acordos de Paris, que tem como objetivo limitar o aquecimento do planeta a 3,6 ºC a té 2025. Trump já declarou diversas vezes que não acredita no aquecimento global e disse que ele é uma mentira chinesa para prejudicar os EUA. / NYT