Trump fica isolado após declarações sobre distúrbio em Charlottesville

Ex-presidentes e funcionários de alto escalão de seu governo manifestaram-se contra o racismo e o antissemitismo, enquanto o chefe de Estado equiparou os supremacistas brancos com os manifestantes que os denunciam

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WASHINGTON - Depois de quase 200 dias de caótica presidência, Donald Trump ficou mais isolado do que nunca nesta quarta-feira após seus comentários em defesa dos supremacistas brancos.

O chefe de Estado mudou completamente as normas do discurso político americano na terça-feira, ao declarar que houve "gente muito boa" entre os membros da extrema direita e os anti-fascistas que se enfrentaram no fim de semana na cidade de Charlottesville, no Estado de Virginia.

Donald Trump é alvo de críticas por suas declarações sobre distúrbio em Charlottesville Foto: Tom Brenner/The New York Times

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Suas palavras, pronunciadas em um tom acusatório na Trump Tower em Nova York, foram elogiadas por um ex-líder da Ku Klux Klan (KKK). Enquanto isso, muitos legisladores preferiram o silêncio.

Trump deu a clara impressão de que expressou o mesmo que disse no dia seguinte aos incidentes em que uma mulher morreu, quando leu na Casa Branca uma declaração condenando a "violência racista", sem criticar diretamente os supremacistas brancos, os neonazistas e os membros da KKK.

Quase imediatamente, executivos de alto escalão começaram a abandonar os fóruns empresariais que assessoram a Casa Branca. 

Trump tentou manter as aparências nesta quarta-feira com a dissolução de dois desses organismos, mas os líderes da indústria americana já haviam se distanciado de sua posição.

Jamie Dimon, diretor-executivo da JPMorgan Chase, disse que os membros do agora dissolvido Fórum de Estratégia e Política haviam "concordado" em acabar com o órgão. 

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"Estou totalmente em desacordo com a reação do presidente Trump sobre os acontecimentos em Charlottesville nos últimos dias. O racismo, a intolerância e a violência sempre são ruins", afirmou Dimon. 

O coro de críticas da esquerda política foi tão forte como era previsível, mas poucos do campo republicano estiveram dispostos a defender publicamente o presidente. 

Os ex-presidentes republicanos George Bush e seu filho George W. Bush divulgaram um comunicado conjunto - algo muito pouco habitual neles -, em que pediram para "rejeitar o racismo, o antissemitismo e o ódio sob todas suas formas".

Falando de forma improvisada ao ser abordado pela imprensa na Trump Tower, Trump equiparou os supremacistas brancos com os manifestantes que os denunciam.

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Criticou "a esquerda que atacou a direita alternativa", destacando que há pessoas "muito boas" de ambos os lados.

No sábado, pouco depois dos episódios de violência, Trump causou uma primeira onda de revolta ao se negar a condenar explicitamente os grupos dos quais saiu o militante neonazista que lançou seu carro contra os manifestantes.

Seu antecessor, o democrata Barack Obama, reagiu tuitando uma frase de Nelson Mandela: "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou sua origem, ou sua religião". Este tuíte de Obama se tornou o mais popular até o momento na história da rede social, informou o Twitter nesta quarta-feira.

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Segundo o site de notícias Axios, o controvertido assessor estratégico do presidente Steve Bannon mostrou-se encantado com a entrevista coletiva, que deu vitória ao setor nacionalista da Casa Branca sobre os "globalistas" que ele teme que arrastem o presidente para uma linha convencional. 

Os comentários de Trump também parecem ter incomodado integrantes da Segurança Nacional. O alto escalão das Forças Armadas tomaram a decisão sem precedentes de emitir comunicados defendendo a inclusão e a unidade racial. 

O vice-presidente, Mike Pence, anunciou que encurtará sua viagem pela América Latina para reunir-se com Trump na sexta-feira, a fim de revisar a estratégia americana no Afeganistão. 

O procurador-geral, Jeff Sessions, por sua vez declarou: "Não podemos, de nenhuma maneira, aceitar ou nos desculpar pelo racismo, o fanatismo, o ódio, a violência e esse tipo de coisa que com muita frequência surge no nosso país". 

O secretário de Estado, Rex Tillerson, também declarou, ao se reunir com o chanceler canadense, sua "condenação a esse tipo de ódio e violência". "Simplesmente não há lugar para isso em nosso discurso público." / AFP

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