PARIS - A diretora geral da Unesco, Irina Bokova, repudiou nesta sexta-feira a destruição da cidade assíria de Nimrud, no norte do Iraque, pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI), classificou a ação como um "crime de guerra" e pediu a mobilização de todos os envolvidos para proteger o patrimônio. "Condeno com a maior firmeza a destruição de Nimrud. Esse novo ataque contra a cidade iraquiana é mais uma prova que a limpeza cultural da qual o Iraque é alvo não para."
A representante da Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) afirmou que os terroristas do EI querem acabar "com a vida humana e as minorias" e para isso empregam "a destruição sistemática de um patrimônio milenar da humanidade". Os extremistas afirmam que os antigos sítios arqueológicos incentivam o abandono da fé.
"Não podemos permanecer em silêncio. A destruição deliberada do patrimônio cultural constitui um crime de guerra. Faço um pedido a todos os representantes políticos e religiosos da região a se posicionar contra esse novo ato de barbárie e lembrar que não existe justificativa política nem religiosa para destruir o patrimônio cultural da humanidade", disse.
Bokova se dirigiu principalmente aos jovens para que "façam o que estiver ao seu alcance para proteger o patrimônio e reinvindicá-lo como bem da humanidade inteira".
"Peço também para que todas as instituições culturais, museus, jornalistas, professores e cientistas compartilhem e expliquem ainda mais a importância deste patrimônio da civilização mesopotâmica", pediu Bokova, que ressaltou que "a loucura criminal de destruir a cultura" é combatida "com mais cultura e com uma mobilização sem precedentes".
Há poucos dias, a diretora geral solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU depois que o EI divulgou imagens de integrantes do grupo jihadista destruindo estátuas milenares expostas no museu de Mossul.
A Unesco fará um trabalho de documentação e proteção do patrimônio iraquiano. Segundo Bokova, é preciso combater para conter o tráfico ilegal de bens culturais, que serve para financiar o terrorismo. "A comunidade internacional deve unir esforços em solidariedade ao governo e ao povo iraquiano para impedir essa catástrofe", enfatizou.
Importância. Fundada há mais de 3.300 anos, Nimrud foi capital do império assírio. Os palácios e monumentos da cidade são citados na literatura e nos textos sagrados, segundo a Unesco. As descobertas dos tesouros do parque arqueológico de Nimrud na década 80 são consideradas as mais importantes do século 20.
No ano passado, os militantes destruíram a Mesquita do Profeta Younis e a Mesquita do Profeta Jirjis, dois antigos santuários que eram venerados em Mosul. Os militantes também ameaçaram extinguir o Minarete Torto, de 850 anos, mas os moradores cercaram a estrutura, evitando a aproximação dos extremistas.
Suzanne Bott, diretora do projeto de conservação do patrimônio para o Iraque e Afeganistão da Universidade de Arquitetura, Planejamento e Arqueologia do Arizona, trabalhou em Nimrud entre 2008 e 2010, ajudando a estabilizar as estruturas e vistoriando o local para o Departamento de Estado americano, como parte de uma operação militar conjunta com a unidade civil.
Bott descreveu Nimrud como uma das quatro principais capitais assírias onde se praticava a medicina, astrologia, agricultura e comércio. "O local é realmente conhecido como o berço da civilização ocidental e é por isso que esta perda é tão devastadora", disse Bott. /AP e EFE