Venezuela convida credores para debater renegociação de dívida externa

Analistas acreditam que chavismo queira antecipar discussão financeira para chegar fortalecido às eleições do ano que vem

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Atualização:

CARACAS - O governo da Venezuela convidou credores internacionais para uma reunião no dia 13 em Caracas para discutir os termos da renegociação de sua dívida externa, estimada em US$ 150 bilhões. O anúncio foi feito um dia depois de o presidente Nicolás Maduro prometer renegociar e reestruturar a dívida, sem deixar claro se o país decretaria moratória

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Em pronunciamento na TV estatal, o vice-presidente Tareck El Aissami garantiu que os US$ 1,1 bilhão em títulos da dívida que vencem neste mês serão pagos nos próximos dias. “Vamos buscar de maneira conjunta mecanismos que garantem o cumprimento dos compromissos da renegociação da dívida”, disse El Aissami, acompanhado dos ministros da Economia e do Petróleo. 

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na quinta-feira, 2, que vai reestruturar toda a dívida externa do país Foto:

O vice-presidente responsabilizou as sanções implementadas pelos Estados Unidos, que dificultaram as opções de financiamento para a Venezuela, pela renegociação. “Queremos denunciar a sabotagem permanente e perseguição financeira por parte do governo Trump”, acrescentou El Aissami, que lembrou que, desde 2014, o país já pagou 71 bilhões em títulos da dívida. 

Em virtude do sucateamento da PDVSA, do descontrole nos gastos públicos e da queda do preço do petróleo a partir de 2014, a Venezuela viu suas reservas em dólares caírem vertiginosamente nos últimos anos. O governo tentou conter a sangria congelando a oferta de dólares para importação, que provocou uma crise generalizada de escassez de remédios, alimentos e matérias-prima. 

Em janeiro, já com o caixa severamente debilitado, Maduro recorreu à Rússia para obter crédito, em troca de ativos da PDVSA como a refinaria Citgo, nos Estados Unidos. Com isso, a Venezuela saldou seus compromissos no primeiro semestre.A partir de agosto, no entanto, as sanções impostas por Trump dificultaram ainda mais o fluxo de caixa venezuelano. 

A consultoria de risco Teneo Intelligence diz que existem benefícios políticos para os quais o presidente Nicolás Maduro pode estar olhando. Para a consultoria, a antecipação de US$ 9 bilhões em pagamentos de dívida vai reforçar o batismo de guerra do Partido Socialista para as eleições presidenciais de 2018, na qual o governo pretende conquistar mais seis anos de poder.

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"Maduro pode apostar que ocorra muitas batalhas legais prolongadas com os detentores da dívida, bem como ajuda da China e da Rússia, o que levaria o chavismo ao poder em 2019", diz a consultoria. "A capacidade do chavismo de enfrentar as tempestades políticas e econômicas não deve ser subestimada".

Para a consultoria Torino Capital, embora o presidente Nicolás Maduro tenha prometido fazer um pagamento de US$ 1,1 bilhão do principal até sexta-feira, o país já está utilizando seu período de carência de 30 dias em relação a juros que totalizam US$ 964 milhões até o final de ano.

O pagamento desse montante daria aos credores pouco incentivo em participar de uma eventual reestruturação da dívida, diz a nota da consultoria. "No momento, tomamos esse anúncio como um sinal de que a intenção do governo é de refinanciar sua dívida, mas acreditamos no fim que tal hipótese é pouco provável", diz a Torino Capital, acrescentando que "o governo venezuelano deve frustrar essa expectativa ao ser confrontado com a perspectiva de um pedido de garantia envolvendo ativos e recebíveis". /AFP, DowJones e Reuters

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