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Venezuela reativa unidades militares na fronteira

Na divisa com o Brasil, governo de Nicolás Maduro tenta controlar fuga de cidadãos que buscam saída diante de uma grave crise econômica e política

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O governo da Venezuela está reativando uma rede de pequenas instalações militares ao longo da fronteira de 1,4 mil km com o Brasil. São de 9 a 12 postos de controle, distribuídos de forma irregular desde o limite tríplice que inclui o território da Guiana até o eixo rodoviário de 15 km que liga a cidade de Santa Elena de Uairén à brasileira Pacaraima, após a divisa. 

A rota é a principal de entrada dos migrantes que chegam ao País pelo Estado de Roraima. Segundo um ex-ministro da Defesa do governo de Hugo Chávez, hoje na oposição a Nicolás Maduro, a guarnição nesses pontos é pequena, com não mais de 15 militares, e a permanência varia de dois ou três dias a duas semanas. Com eles, ficam funcionários civis que não se identificam. Carros, ônibus e caminhões são inspecionados - famílias, cargas e bagagens passam por verificações minuciosas. 

Venezuelano lava para-brisas na capital de Roraima Foto: VANESSA VIEIRA/ESTADAO

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A intenção do procedimento, afirma o ex-militar, é inibir as viagens de compras que a população fronteiriça faz diariamente para se abastecer de produtos básicos, como arroz, leite e farinha de milho, coisas que a crise venezuelana fez desaparecer dos mercados. Não é o único objetivo: o governo bolivariano quer controlar a emigração ilegal, apontada pela oposição como indicador do fracasso da liderança chavista. 

Na primeira semana de novembro desembarcavam em Pacaraima, todos os dias, cerca de 500 venezuelanos - 50 deles, chegavam para ficar. De acordo com a governadora de Roraima, Suely Campos, “depois disso, o número cresceu ao menos em 50%”. A limitada estrutura de atendimento social local não tem recursos para receber a onda. A situação está sendo monitorada pela Defesa Civil estadual. “Está havendo, por exemplo, substancial aumento nos gastos da saúde, sem que haja contrapartida do governo federal”, destaca Suely.

Defesa. Do lado brasileiro, a retomada da pequena rede de instalações militares pela Venezuela “não preocupa nem provoca reação”, na análise de um oficial do Comando da Amazônia, que cuida de 9.762 km de fronteiras com seis países da região - além da Venezuela, também Bolívia, Peru, Colômbia, Suriname e Guiana. Essa é a posição institucional. Combatentes das Brigadas de Infantaria de Selva instaladas na capital, Boa Vista, e em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, ouvidos pelo Estado, consideram a atividade como “pequenas ações de provocação”. 

O efetivo empregado no campo é estimado em 23 mil soldados. O equipamento - armamento, munições, veículos, embarcações, helicópteros, sistemas eletrônicos, sensores de coleta de dados de inteligência - é “adequado”, na avaliação do Ministério da Defesa.

Os venezuelanos se movimentam. Em outubro, fizeram voar no espaço aéreo binacional alguns de seus caças, talvez os modernos Su-30, russos, levando conjuntos óticos de reconhecimento aéreo. Antes disso, mobilizou até bem perto da fronteira uma bateria completa de mísseis antiaéreos S-125 Pechora. A arma, com alcance de 35 km, foi fornecida pela Rússia, no âmbito de um pacote de equipamentos de Defesa avaliado em US$ 5 bilhões, negociado em 2011 por Chávez e pelo presidente Vladimir Putin. 

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Em julho, Maduro deslocou uma unidade de infantaria blindada para o vale do Rio Esequibo, marco da disputa de terra com a Guiana. É desconfortável para a diplomacia brasileira - Brasília e Georgetown mantêm um acordo de cooperação mútua em assuntos de Defesa.