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Venezuela tenta conter grave crise econômica com ajuda de militares

Citibank fecha conta usada pelo Banco Central para fazer pagamentos internacionais; Maduro transfere ao Ministério da Defesa controle de alimentos

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - A interrupção das operações de várias multinacionais na Venezuela e do Citibank como responsável pelo pagamento das contas do país no exterior acentua a crise econômica, da qual o governo tenta sair dando mais poder aos militares. O banco americano Citibank confirmou nesta terça-feira (12) sua decisão de fechar uma conta usada pelo Banco Central da Venezuela (BCV) para fazer seus pagamentos internacionais.

"Após uma avaliação periódica de gestão de risco na Venezuela, o Citi decidiu encerrar (as atividades) como banco correspondente e interromper o serviço de certas contas no país", informou o Citibank em comunicado.

Presidente Nicolás Maduro diz que a Venezuelaévítima de boicote financeiro Foto: REUTERS.

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Na véspera, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já havia denunciado o que chamou de "boicote financeiro", dizendo que o Citibank notificou o fechamento da conta "sem aviso prévio".

Por intermédio do Citibank, a Venezuela paga em 24 horas todas as contas nos Estados Unidos e no mundo, advertiu Maduro. A medida põe o país em grandes dificuldades, já que, agora, precisará buscar outro banco correspondente para evitar ficar à margem do sistema financeiro internacional.

"Isso acrescenta uma complicação, porque dificulta os pagamentos externos e torna mais complexas as transações externas em um país já em severa crise", disse à AFP o deputado opositor José Guerra, ex-diretor do BCV.

A decisão do Citibank foi anunciada após os fechamentos, ou cortes de operações, de empresas na Venezuela, como Coca-Cola, os grupos americanos Kraft Heinz e Clorox, ou as companhias aéreas Lufthansa, Aeroméxico, ou American Airlines.

Começando a cumprir sua ameaça de intervir nas empresas que paralisarem suas operações, o governo assumiu o controle na segunda-feira da fábrica da empresa americana de produtos de higiene pessoal Kimberly-Clark, entregando-a aos trabalhadores. A companhia havia suspendido suas operações em razão da "deterioração" da economia venezuelana.

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"Ninguém vai parar a Venezuela. Com Citibank, ou sem Citibank, nós vamos. Com Kimberly, ou sem Kimberly, a Venezuela vai", advertiu Maduro.

O país com as maiores reservas de petróleo do mundo sofre uma grave crise pela queda dos preços do petróleo, com uma escassez que chega a 80% de alimentos e remédios, além de uma inflação de 180% em 2015. A projeção para 2016 do Fundo Monetário Internacional (FMI) é que chegue a 720%.

"As empresas vão embora, porque não recebem divisas, não têm como importar insumos e deixam de produzir. A resposta é tomar a fábrica, mas os trabalhadores vão produzir com o quê?", questiona o economista e diretor da consultoria Ecoanalítica, Pedro Palma.

Analistas críticos do governo e da oposição afirmam que a crise é resultado do modelo socialista e do regime de controle cambial em vigor desde 2003. Maduro rebate as acusações, dizendo-se vítima de uma "guerra econômica" que tenta provocar o mal-estar da população para derrubá-lo.

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Militarização da economia. Em reação ao agravamento da crise, Maduro anunciou nesta terça-feira à noite um novo plano contra a escassez, intitulado "Grande Missão de Abastecimento". Sua execução ficará a cargo do ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López. As demais pastas ficarão subordinadas aos militares.

"Estamos vendo uma grande substituição dos civis pelos militares, que são os que estão sustentando o governo de Maduro. Isso, a história do Citibank e das empresas que vão embora, afeta a imagem do país e a insatisfação na Venezuela", manifestou o economista Jesús Casique.

Portos, aeroportos e várias empresas amanheceram com forte presença de efetivos da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). As tropas foram enviadas para fiscalizar a distribuição de alimentos e de outros produtos básicos nos estados de Vargas, Miranda, Falcón, Lara, Zulia e Anzoátegui.

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"Não me agrada a intervenção militar" em assuntos civis, mas "este é um assunto de segurança e de defesa da nação", justificou Padrino López. "É um assunto de disciplina", completou.

Maduro argumenta que os militares vão estabelecer a ordem, pois, segundo ele, a iniciativa privada controla 93% da distribuição de produtos básicos e "está pulverizando" todo o sistema com monopólio e especulação.

"Não há nenhuma mudança relevante, salvo o aprofundamento desse modelo que, até agora, o que fez foi destruir a capacidade produtiva do país", afirmou o economista Luis Vicente León, da Datanálisis.

O aumento do poder militar na política e na economia deflagrou fortes críticas em diferentes setores no país. Hoje, por exemplo, o Exército comanda 10 de cerca de 30 ministérios. "Ameaça a tranquilidade e a paz", declarou a Conferência Episcopal, nesta terça.

Já o presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, disse que se reforça "a nefasta imagem do 'pretorianismo'", referindo-se ao excesso de poder militar. / AFP