BUENOS AIRES - O vice-presidente argentino, Amado Boudou,depõe desde o fim da manhã desta segunda-feira, 9, em um tribunal argentino. Ele é acusado de corrupção. Essa é a primeira vez que um vice-presidente do país suspeito desse crime é ordenado a comparecer em um tribunal para depor. A decisão foi do juiz Ariel Lijo.
O caso de corrupção tem aumentado a desaprovação popular do governo de Cristina Kirchner. Militantes kirchneristas organizaram uma manifestação de apoio ao vice-presidente no bairro de Retiro, onde ele irá depor.
Os integrantes do governo afirmam que Boudou é "vítima" do "linchamento midiático". Ele é investigado por negociações incompatíveis com a função pública, crime que prevê pena de até seis anos de prisão, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.
O juiz Lijo suspeita que Boudou teria comprado, por meio de testas-de-ferro, a gráfica Ciccone, que foi terceirizada pelo governo Kirchner pouco depois para imprimir notas de pesos argentinos.
A gráfica teria sido salva de pesadas dívidas com a Administração Federal de Impostos (Afip) graças à interferência de Boudou, que teria colocado a empresa em nome de Alejandro Vanderbroele. O vice-presidente afirma que não conhece o empresário, embora Vanderbroele pague a TV a cabo e o condomínio de um apartamento de Boudou.
Nesta segunda-feira, Lijo, dependendo do inquérito, pode tornar Boudou réu por suborno ou tráfico de influências. Informações extraoficiais indicam que existem provas suficientes para acusá-lo de associação ilícita.
Boudou disse que levaria uma câmera para filmar o próprio inquérito e divulgá-lo porque Lijo, seguindo a legislação argentina, proibiu a transmissão ao vivo.
Uma pesquisa divulgada no domingo 8 pela consultoria Management & Fit indica que 42,5% dos argentinos consideram que Boudou deveria renunciar ao cargo enquanto responde ao processo. Outros 11,1% afirmam que o vice-presidente deveria pelo menos pedir licença temporária do cargo e 21,5% acham que Boudou deve continuar no cargo.
Outra pesquisa, elaborada pela Poliarquía Consultores durante o Pré-Colóquio do Instituto para o Desenvolvimento Empresarial (IDEA), indicou que 62% dos empresários entrevistados consideram que o caso Boudou prejudica o governo da presidente Cristina.
Segundo informações extraoficiais que circularam no âmbito político, Boudou tinha preparado sua renúncia, mas Cristina o proibiu de renunciar. Analistas afirmam que Cristina prefere enfrentar o custo político de respaldar seu vice do que dar o braço a torcer e atender aos pedidos da oposição e setores do kirchnerismo.