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Voto cosmopolita do exterior ajuda Renzi em referendo na Itália

Votação nos consulados da Itália no exterior foi encerrada na quinta-feira

Por Andrei Netto e ROMA
Atualização:

Eleitores ítalo-brasileiros e outros 4 milhões de italianos espalhados pelo mundo podem ser cruciais na definição sobre a adoção ou não da reforma constitucional e no futuro do governo de Matteo Renzi. De acordo com as últimas pesquisas, o voto “não” ao texto levava estreita vantagem, mas as sondagens não incluíam a tendência entre os expatriados, tidos como mais cosmopolitas e menos suscetíveis ao discurso populista que recusa a reforma. 

A votação nos consulados da Itália no exterior foi encerrada na quinta-feira e, na sexta-feira, as urnas com as cédulas estavam a caminho de Roma, onde serão contabilizadas hoje. No Brasil, 325 mil cédulas foram distribuídas. Mais de 93 mil ítalo-brasileiros votaram, uma taxa de participação de cerca de 29% - contra 40% estimados no cômputo geral das eleições italianas no exterior. 

A legalização da união entre homossexuais é uma das bandeiras do partido do premiê italiano, Matteo Renzi Foto: REUTERS/Remo Casilli

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Segundo a deputada ítalo-brasileira Renata Bueno, embora as pesquisas sejam cada vez mais questionáveis, a margem de erro entre os votos pelo “sim” e pelo “não” é pequena, e a participação dos italianos no exterior pode ser decisiva. Na sua opinião, esse eleitor, como ela própria fez, tem maior tendência de voto a favor da reforma constitucional. 

Italianos que vivem em outros países da Europa, no entanto, podem ser mais refratários à reforma constitucional. É o caso do cientista político Goffredo Adinolfi, professor do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (Cies) de Lisboa. “Sou a favor do ‘não’, porque a Constituição reformada, na sua vontade de tornar mais rápido o processo de decisão, reduz os freios e contrapesos típicos de uma democracia liberal”, afirma, temendo o poder excessivo nas mãos do primeiro-ministro, que considera perigoso em caso de vitória do Movimento 5 Estrelas (M5S), do populista Beppe Grillo, em futuras eleições. “A combinação entre a reforma constitucional e a lei eleitoral faria com que houvesse uma concentração excessiva.” 

Outro italiano expatriado reticente é o filósofo e professor universitário Gianfranco Ferraro. Militante do “não”, ele chegou a organizar uma campanha com um site sobre o referendo. “Estamos frente à reforma mais importante desde 1948, pós-fascismo, que modifica 35% a 40% de toda a Constituição italiana. Muda a forma institucional do Estado italiano, deixando o bicameralismo em favor de um unicameralismo”, diz Ferraro. “Uma reforma desse tipo, sem uma base larga de consenso no país, sem uma Assembleia Constituinte, é o primeiro vício.” 

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