'Voz K' liga Macri a demissão de rádio

Gol de Maradona em 86 inspirou choro-narração

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Por Rodrigo Cavalheiro
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BUENOS AIRES - Quando aos 25 minutos do segundo tempo Diego Maradona driblou seis ingleses e marcou o gol mais bonito dos Mundiais segundo a Fifa, Victor Hugo Morales garantiu décadas de emprego com uma narração que torcedores colocaram no mesmo patamar.  Em êxtase, o locutor uruguaio radicado na Argentina questionou de que planeta era o “barrilzinho cósmico” que tinha deixado tantos rivais no chão. Batizou a jogada como “a de todos os tempos”. Pediu desculpas por chorar ao vivo. A Argentina avançou às semifinais com uma vitória por 2 a 1 (o primeiro gol havia sido também de Maradona, o de mão) e levou seu segundo e último Mundial, em 1986.  Recentemente, Maradona e Morales jogaram no time kirchnerista, campo em que o locutor obteve maior protagonismo e mostrou-se versátil. Defendeu incondicionalmente Néstor e Cristina Kirchner e o atacou todos seus rivais, travando uma disputa judicial com o Grupo Clarín. Fez campanha contra Mauricio Macri. Na manhã de segunda-feira, pouco antes de entrar no ar com seu programa diário da rádio Continental, Morales descobriu que não estava escalado. Nos quatro minutos em que se despediu dos ouvintes, acusou os donos da emissora de cuidarem seus interesses “fazendo com que o chefe de Estado não se irritasse”. Acusou o presidente de ter pedido sua cabeça e “tentar calar todas as vozes contrárias a seu governo”.  Na terça-feira, Macri respondeu. “Não nos dedicamos a ver que jornalista trabalha em que programa de rádio e televisão. Lamento as coisas que ele disse, são falsas. Tenho uma longa relação com ele, me visitou muitas vezes antes de tornar-se um fanático kirchnerista após a Lei de Mídia e a batalha com o Clarín”, afirmou. No fim daquele dia, Morales convocou uma marcha que encheu a Praça de Maio. Os manifestantes pediam que ele fosse readmitido e criticavam o decreto de Macri contra a Lei de Mídia.  Em meio à divisão que causou, Morales ganhou apoio de um jornalista antikirchnerista. “É uma mancha negra para a democracia.”, afirmou o apresentador Nelson Castro, colega de rádio de Morales.

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