Betelgeuse registra seu brilho mais fraco da história: estaria a estrela perto do fim?

O corpo celeste caiu da sétima para a 21.ª posição entre as estrelas mais brilhantes do céu; possibilidades em torno de uma explosão repercutem entre astrônomos

PUBLICIDADE

Por Dennis Overbye
Atualização:

Estaríamos prestes a testemunhar a explosão de Betelgeuse? Provavelmente não, mas os astrônomos estão se divertindo com as possibilidades. Nos três meses mais recentes, a estrela, que forma a axila do caçador Orion na constelação de mesmo nome, teve seu brilho misteriosamente reduzido para menos da metade do normal.

No início de janeiro, a estrela estava com o brilho mais fraco já observado, de acordo com Edward Guinan, da Universidade Villanova, na Pensilvânia, que reúne dados a respeito de Betelgeuse. A estrela caiu da sétima para a 21.ª posição entre as estrelas mais brilhantes do céu, disse o Dr. Guinan. Mas, mesmo com o brilho enfraquecido, Betelgeuse ainda é brilhante demais para ser observada e medida por grandes telescópios profissionais — ao menos não sem danificar seus sensores.

Estrela conhecida da constelação de Orion parece menos brilhante. Foto: Observatório do Sul da Europa

PUBLICIDADE

A astrofísica Rebecca Oppenheimer, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, disse ter observado recentemente Betelgeuse com um telescópio de 500 centímetros no Observatório de Palomar, na California, mas a imagem residual foi tão forte que deixou o detector do telescópio desativado pelo restante do dia. Ela disse que, da próxima vez, o observatório paneja ocultar parte do espelho gigante para reduzir a quantidade de luz recebida.

Recentemente, Neil deGrasse Tyson, diretor do Planetário Hayden, em Nova York, fez circular um pedido para que astrônomos amadores observem e monitorem o brilho da estrela. Tudo isso trouxe à tona o tópico da mortalidade de Betelgeuse e o desfecho cósmico do corpo celeste.

Ninguém nega que, um dia, a estrela vai explodir. Betelgeuse — também conhecida como Alpha Orionis — tem pelo menos 10 vezes (talvez até 20 vezes) a massa do Sol. A estrela é uma supergigante vermelha nos últimos e violentos estados de sua evolução. Já passou milhões de anos queimando o hidrogênio primordial e transformando-o em hélio. Quando o núcleo da estrela se tornar ferro sólido, em algum momento dos próximos 100.000 anos, a estrela vai entrar em colapso e provocar a explosão de uma supernova, provavelmente deixando atrás de si um buraco negro.

Betelgeuse fica a apenas 700 anos-luz da Terra, distância suficiente para sobrevivermos à sua explosão, quando ocorrer, mas próxima o bastante para nos impressionar; no céu da Terra, a supernova seria tão brilhante quando uma Lua cheia. É pouco provável que a atual diminuição no brilho da estrela seja indicativa do seu fim, dizem os astrônomos. As estrelas em processo de envelhecimento são conhecidas pelo temperamento instável, ejetando material sob a forma de gás e poeira que pode ocultar o próprio brilho, ou funcionando de maneira intermitente conforme seu núcleo evolui.

Até estrelas normais estão sujeitas a flutuações periódicas do seu brilho. Betelgeuse passa por ciclos semelhantes de altos e baixos, e a explicação mais provável para o episódio atual é a coincidência entre a fase de baixa atividade de dois ciclos. “O tempo todo, apostei que Betelgeuse estaria passando por uma mudança no seu brilho extrema, porém esperada e quase periódica”, afirmou J. Craig Wheeler, especialista em supernovas da Universidade do Texas, em Austin.

Publicidade

Outros estudos indicam que ondas de choque de um núcleo estelar à beira do colapso também poderiam fazer com que o brilho da estrela aumentasse e diminuísse por um ano em decorrência da sua explosão. Assim sendo, ninguém sabe ao certo a resposta. Os astrônomos dispõe de poucos dados a respeito de como as estrelas se comportam antes de explodirem; as supernovas são raras, e o fenômeno costuma ocorrer com corpos celestes distantes que não foram estudados antes.

Mas, para o astrônomo Alexei Filippenko, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, é perda de tempo ficar aguardando a explosão final — “a não ser que o observador esteja preparado para uma espera de 100.000 anos”.

Mesmo se Betelgeuse não explodir no próximo ano, os astrônomos provavelmente aprenderão a respeito do comportamento das supergigantes vermelhas conforme se aproximam do seu fim. “Saio para passear até nas noites parcialmente nubladas para observar o que a estrela está aprontando", disse o Dr. Guinan. “Seria incrível se o seu brilho aumentasse subitamente.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.