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Ava DuVernay volta ao cinema com 'Uma dobra no tempo'

Filme infantil da diretora de 'Selma' promete uma obra da Disney sob o olhar da mulher negra

Por Melena Ryzik
Atualização:

LOS ANGELES - "Esta é a casa construída para 'Uma dobra no tempo', disse a realizadora Ava DuVernay, 45, dando uma volta por um conjunto de três edifícios - um enorme escritório ao redor de um pátio luminoso, uma construção de dois andares para a produção e um espaço de eventos cheio de luz, em uma antiga fábrica de tintas da cidade. Era dela há cerca de 24 horas, e ela já tinha grandes planos para o cenário. "Vamos adequá-lo ao ponto de vista de uma mulher negra", disse.

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Ava acabava de dar os últimos retoques no filme que a Disney financiou. "Uma dobra no tempo", sua adaptação da clássica obra de ficção científica para jovens adultos, de Madeleine L’Engle, de 1962. Ela também havia sido adequada ao ponto de vista de uma mulher negra.

Suas escolhas para o elenco, o tom e a perspectiva, foram inovadoras, em primeiro lugar, porque a diretora era ela, a primeira mulher negra à frente de um filme de US$ 100 milhões produzido por um estúdio. Mas, segundo afirmou, esta façanha histórica significou menos para ela do que a oportunidade de plantar sementes, como definiu: cultivando uma nova maneira de ver o mundo. Ela cuidou de "feminizar" o filme, a história de uma garota obstinada, estudante de ensino médio - no caso, uma mestiça - que em suas peripécias à procura do pai cientista, desaparecido, salva o universo do mal que invade a terra.

"Quando você diz 'feminizar', as pessoas pensam em 'suavizar' certos pontos, mas eu penso em força em outros", onde é normalmente ignorada, disse Ava.

Com seus projetos anteriores - como o drama sobre os direitos civis “Selma” e o documentário “13TH”, sobre o sistema carcerário - e a sua companhia, Array, que distribui filmes de diretores carentes, ela conquistou uma plataforma ativista aparentemente inseparável de sua voz.

"Uma dobra no tempo" não é um livro de fácil adaptação. Para resgatar o pai, Meg Murry, a heroína que adora física - interpretada por Storm Reid, hoje com 14 anos - pula de galáxia em galáxia com seu irmãozinho e um amigo, e encontra criaturas fantásticas e animais ameaçadores. Mas sua trajetória é elíptica, e quando ela finalmente encontra o vilão, é um cérebro. "O vilão é a escuridão que habita em nós", explicou a diretora. "Não há um Darth Vader, nem cenas de batalha. Sua ação é progressiva, e é interior".

Ava teve à sua disposição uma notável equipe de animação nesta tarefa "dura", como a definiu: "Eu aceitei participar porque achei que uma experiência com Ava seria divertida", disse sua amiga Oprah Winfrey, que faz o papel de Mrs. Which, um dos espíritos que guiam as crianças. Reese Witherspoon, como a impaciente Mrs. Whatsit, e Mindy Kaling, que cita Rumi e OutKast como Mrs. Who, são as outras intérpretes; elas foram escolhidas em parte por sua perspicácia fora da tela como produtoras preocupadas em repaginar Hollywood.

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Foi a ideia de Ava de um elenco multicultural- "Hamilton" foi uma referência - que contribuiu para vender sua concepção à Disney. "Quando ela a apresentou dessa maneira, simplesmente concluímos que não seria possível imaginar o filme de outro modo", disse Tendo Nagenda, vice-presidente-executivo para a produção do Walt Disney Studios, que mandou o roteiro a Ava.

Nagenda - que foi criado em Los Angeles pelo pai ugandense e a mãe de Belize - disse que considera parte de sua missão na Disney ampliar a narrativa.

"Uma dobra no tempo" será lançado este mês, depois de "Pantera Negra", de Ryan Coogler, outro filme da Disney, e aparentemente reformulou o código cultural de Hollywood, ou como um futuro sucesso estrondoso ou então como desastre de bilheteria - muito mais triste.

O filme tem poucas chances de ser um fenômeno como "Pantera Negra", disse Nagenda, mas o filme - e as lições de marketing que foram extraídas dele - poderá atrair novos espectadores. "O público está respondendo a enredos nos quais ele se sente representado e tendo uma voz, e onde o filme em si demonstra plena consciência disso”, afirmou. "Acho que é isso que nosso filme tem em alto grau".

Ava observou que "Uma dobra no tempo" não deverá ser um grande sucesso para todos os públicos como um filme de super-heróis da Marvel; ele é para um público dos 8 aos 12 anos.

Storm Reid, a estrela, compreendeu o impacto deste papel sobre outras garotas. "Eu me sinto responsável, sinto que preciso ser um estímulo para elas e preciso continuar sendo sua inspiração", afirmou.

O brilho das fantasias do filme não diminui de modo algum a missão de Ava, que é cultivar novas perspectivas e realidades. Para ela, "Selma" e "Uma dobra no tempo" contêm uma mensagem fundamental. 

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"Atuar pelos direitos civis e atuar pela justiça social é algo que conquista a imaginação, permite imaginar um mundo que não está aqui, mas você imagina que pode estar aqui. É a mesma coisa que a gente faz quando imagina e se projeta em um espaço futuro, ou em um espaço do qual você está ausente".

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