'Camaleões do mar', chocos fascinam cientistas com seus truques

Pesquisadores descobriram que o molusco se 'disfarça' e imita as formas e cores do ambiente

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Por Veronique Greenwood
Atualização:

Pense naquele guarda-chuva colorido que acompanha os coquetéis. Como ocorre com seus equivalentes maiores, esses objetos decorativos podem ser abertos e fechados com facilidade. E também podem ser mantidos na posição aberta graças a uma pequena trava antes de provarmos o drinque.

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Imagine ter centenas de guarda-chuvas de coquetel sob a pele. Essa é uma descrição razoável dos chocos, os reluzentes parentes das lulas e polvos.

Biólogos da Universidade de Cambridge e do Laboratório de Biologia Marinha de Massachusetts descobriram que os chocos, mestres da camuflagem cujo talento para se transformar fascina os biólogos há décadas, podem travar centenas de pequenas estruturas sob a pele e mantê-las nessa posição, conferindo a si uma textura particular, e continuar seus afazeres sem gastar nenhuma energia para manter esse formato.

É a primeira vez que isso é observado nos chocos, lembrando a todos que até espécies muito estudadas ainda guardam segredos.

Os chocos são os camaleões do mar: quando colocados perto de algas, ativam uma série de refletores e células coloridas da pele para se igualar ao ambiente.

Imagens do mesmo choco, feitas com um intervalo de segundos. Foto: Paloma T. Gonzalez-Bellido via The New York Times

Eles também imitam a textura dos arredores usando pequenos nódulos chamados de papilas, que eles estendem e contraem usando músculos. Podem se assemelhar ao leito rochoso do mar, a um coral pontiagudo oua um pedaço de granito.

“São tão espertos que usam a posição dos tentáculos para imitar as formas do ambiente”, disse Trevor Wardill, neurobiólogo da Universidade de Cambridge e participante do estudo. “Se houver uma alga formando um ângulo de 45°, eles posicionam os tentáculos da mesma maneira”.

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No estudo, para entender como os chocos controlam sua cor e formato, Paloma Gonzalez-Bellido, colega dw Wardill, cortou um nervo que controla uma parte da pele do choco.

Um dos dois chocos usados por ela no experimento manteve a pele lisa e não conseguiu mais mudar a cor da parte afetada da pele, como esperado, embora não apresentasse dificuldades para nadar.

O outro, no entanto, tinha as papilas estendidas no momento da incisão, e estas não se retraíram. Em vez disso, mantiveram-se armadas. Só voltaram à posição original depois de uma hora. Essas papilas podem ser travadas na posição se forem dosadas com determinados neurotransmissores, que esse choco tinha provavelmente liberado pouco antes de ter o nervo cortado.

Os pesquisadores acreditam que os chocos usam esse mecanismo de trava para manter um disfarce sem a obrigação de manter os músculos na mesma posição por muito tempo.

O estudo pode levar a uma compreensão mais apurada sobre outros mistérios a respeito do choco. Se os pesquisadores conseguirem decifrar os neurônios individuais que controlam essas papilas e compreender melhor o funcionamento desta trava, talvez percebam melhor como essas criaturas conseguem se esconder bem diante dos olhos.

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