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China vai criar imposto para frear preço dos imóveis

No país, os altos preços das propriedades deixaram inúmeros imóveis vazios

Por Keith Bradsher
Atualização:

NANJING, China — A China já tentou praticamente tudo para domar um mercado imobiliário no qual o preço dos lares às vezes oscila como o valor do Bitcoin.

Nas maiores cidades da China, os preços dos imóveis dobraram nos anos mais recentes. Modelos numa feira de imóveis. Foto: Wu Hong|European Pressphoto Agency

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Ao longo dos anos, a China limitou os empréstimos hipotecários. O país tentou limitar a compra de lares por pessoas que já possuem um imóvel. Investiu bilhões de dólares na construção de lares que as pessoas possam comprar.

Agora o governo chinês pensa em adotar algo que poderia transformar a segunda maior economia do mundo: um imposto predial. Viver num lugar onde os imóveis não são taxados pode soar atraente, mas um crescente número de especialistas e responsáveis pelas políticas públicas na China diz que a ausência desse imposto ajudou a desestabilizar uma parte crucial da economia chinesa.

Muitos investidores compram imóveis (na China, são principalmente apartamentos) na esperança de aproveitar sua valorização. Nas cidades maiores, o preço médio dos imóveis chegou a dobrar ao longo dos oito anos mais recentes. Mas, em muitas cidades, é grande o número de apartamentos vazios, seja porque o comprador não tem intenção de habitá-los ou alugá-los, ou porque os especuladores construíram lares que ninguém quer.

Em outubro, o presidente da China, Xi Jinping, disse ao país que “os lares são construídos para serem habitados, e não para a especulação".

Recentemente, possíveis compradores interessados passaram a noite em barracas, enrolados em cobertores, formando uma fila para ter a chance de comprar um apartamento num complexo na cidade de Nanjing, leste do país. O número de carros que vieram para a venda foi tamanho que formou-se uma fila de um quilômetro em torno do escritório da imobiliária.

“Havia muitos especuladores", disse Han Changlong, inspetor imobiliário de Nanjing, que compareceu à venda. “Alguns pensam que, se não comprarem agora, os lares vão ficar ainda mais caros no futuro.”

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Cerca de 20% a 25% da produção econômica total da China é proveniente de imóveis e das indústrias a eles relacionadas, como a fabricação de mobília. Mas os imóveis são também a fonte de alguns dos maiores momentos de prosperidade e quebra desse mercado. Os investidores locais (muitos dos quais desconfiam dos mercados de ações e são proibidos por Pequim de transferir a maior parte de sua riqueza para o exterior) despejam seu dinheiro nos imóveis. As comissões dos corretores podem chegar a apenas 1%. Os empréstimos hipotecários aumentaram muito nos dois anos mais recentes.

O preço dos imóveis em Pequim e Xangai aumentou tanto que agora foge ao alcance até mesmo de muitas famílias ricas e especuladores.

Recentemente, o engenheiro mecânico Ma Xiaoguang, 31 anos, e a mulher compraram um apartamento de US$ 227 mil nos arredores mais distantes de Xangai para que a filha deles recebesse permissão para frequentar uma escola pública nas imediações. Mas eles não moram lá: pagam aluguel numa região mais cara. “Quero ter um lar, e um apartamento faz com que eu e minha família nos sintamos mais seguros", disse ele.

Mas um imposto pode afetar negativamente a demanda em áreas onde milhares de apartamentos ainda estão entrando no mercado. “O que aconteceria se os preços dos imóveis se mantiverem estáveis?” perguntou Li Xunlei, economista-chefe da Zhongtai Securities, em Jinan. “Temos muitos especuladores, e eles podem considerar desnecessário conservar imóveis cujo valor não aumenta.” Isso pode ser equilibrado por forças culturais. Com o fim da política de filho único, a China tem mais homens do que mulheres entre os jovens, levando a um ímpeto pela compra de imóveis por parte dos homens na tentativa de se tornarem maridos mais interessantes.

O vendedor de seguros Jerry Lu, 24 anos, disse estar determinado a comprar um apartamento para que a namorada se sentisse mais segura. Ele esperou numa longa fila em novembro na sua cidade natal, Deyang, sudoeste do país, e comprou um dos últimos apartamentos disponíveis, incorrendo numa hipoteca que vai lhe custar um terço de sua renda.

“Não me importo se aprovarem um imposto predial no ano que vem", disse ele. “Aconteça o que acontecer, preciso comprar um imóvel”.

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