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Freira atua como guia religiosa de time de basquete de universidade, em Chicago

Ela pede proteção de Deus para os jogadores, que os árbitros marquem faltas de maneira justa e que o Loyola Ramblers execute os lances de acordo com o que foi feito nos treinos

Por Jeff Arnold
Atualização:

CHICAGO — Cada oração começa da mesma maneira, com a frase: "Deus bondoso e misericordioso”. A freira Jean Dolores-Schmidt sempre se certifica disso.

Mas é nas palavras que se seguem que a irmã Jean, freira de 98 anos que tem atuado como guia religiosa do time de basquete masculino da Universidade Loyola de Chicago, realmente encontra sua voz.

Antes de quebrar a bacia, em novembro, a irmã Jean só faltou a duas partidas em casa do Loyola desde 1994 Foto: Alyssa Schukar para The New York Times

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A irmã Jean pede proteção de Deus para os jogadores. Pede para que os árbitros marquem as faltas “de maneira justa”. Pede que os Loyola Ramblers executem as jogadas da maneira que ensaiaram nos treinos.

As orações são tudo, menos imparciais. “Peço a Deus que seja especialmente bondoso com o Loyola para que, no fim da partida, o placar mostre nossa grande vitória”, afirmou.

O treinador Porter Moser e seus jogadores tiveram muito trabalho esta temporada, em que o Loyola chegou entre os quatro finalistas do Torneio da Associação Nacional Atlética Universitária pela primeira vez em 33 anos. Até o técnico e os esportistas reconheceram a inegável influência da irmã Jean.

Ela tem sua própria placa comemorativa no hall da fama da universidade. Já foi homenageada com a distribuição de um boneco seu antes da partida. E, dentro do salão de ginástica, suas palavras “louvar, trabalhar, vencer” são exibidas com destaque. Mas são as palavras pintadas do lado de fora da Gentile Arena — uma citação de Santo Inácio de Loyola — que podem definir melhor sua personalidade: Vai em frente e toca fogo no mundo.

“Ela é o exemplo disso”, afirmou o treinador Moser. “Ela incendeia cada recinto em que entra. Está sempre sorrindo. Tem uma energia própria. Eu me identifico com isso.”

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A conexão entre a irmã Jean e o treinador Moser, de 49 anos, vem de 2011, quando ele foi contratado para revitalizar o time de basquete da universidade. Em seu primeiro dia de trabalho, ele chegou ao seu novo escritório e encontrou uma pasta sobre sua mesa. Dentro, havia um relatório compilado pela irmã Jean que detalhava os atributos positivos e negativos de cada jogador que ele havia herdado.

Os relatórios não pararam de chegar. Dia após dia, temporada após temporada, a irmã Jean analisa os dados dos futuros adversários. Ela é cuidadosa ao anotar cada pequeno detalhe, que transmite aos jogadores quando os abraça pela cintura para rezar com eles. No abraço, ela diz que pode sentir a bondade deles.

“Eles são muito especiais e são muito bondosos”, afirmou a irmã Jean. “Esses meninos jogam com seus corações e suas mentes, porque amam sua universidade e porque amam o basquete.”

Depois de cada partida, a irmã Jean manda e-mails para o treinador Moser, sua equipe e, depois, para cada jogador. Ela sempre inclui uma mensagem personalizada parabenizando por sua atuação jogadores que foram bem ou motivando os que foram mal.

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“Houve dias durante os últimos quatro anos que tive partidas ruins, em que não fui bem”, afirmou Donte Ingram, jogador veterano do Loyola. “Ganhando ou perdendo, no fim da mensagem ela sempre encontra uma maneira de me fazer sentir melhor.”

Antes de ela tropeçar e quebrar a bacia do lado esquerdo, em 14 de novembro, a irmã Jean só tinha faltado a duas partidas em casa do Loyola desde 1994. Normalmente, ela anda pelo campus com seu tênis de basquete personalizado, cor de vinho, com seu nome bordado em dourado na parte de trás do calçado.

Quando se viu forçada a perder oito jogos em casa após a cirurgia reparadora no quadril, a irmã Jean acompanhou a narração das partidas dos Ramblers em seu iPad, mas sem transmissão de vídeo, imaginando o que ocorria em cada disputa.

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Apesar da ausência, as orações, os e-mails e os relatórios nunca cessaram. E, mesmo presa a uma cadeira de rodas, ela percorreu o país para assistir o Loyola — e rezar pela equipe — quando o time conquistava sua posição entre os quatro finalistas, começando pelo título do torneio da Conferência do Vale do Missouri, em St. Louis.

“Prometi a Deus um monte de coisas”, afirmou a respeito das orações ininterruptas que fez durante a final do campeonato. “Então, tive de cumpri-las antes de ir dormir naquela noite.”

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