CHENNAI, ÍNDIA - Ao longo da década mais recente, a Índia tem sido o maior importador mundial de aeronaves, navios e outros equipamentos militares, em sua maioria, da Rússia.
O governo indiano pretende acabar com essa dependência. O primeiro-ministro Narendra Modi vem tentando construir uma indústria de equipamentos militares capaz de fornecer uma maior parte das necessidades da Índia no setor e até exportar armamentos para outras nações. Nova Délhi está oferecendo incentivos a empresas estrangeiras de equipamentos militares em busca de contratos de parceria com empresas indianas, compartilhando com elas sua tecnologia.
O governo Trump tem apoiado os esforço da Índia em obter tecnologia americana, na esperança de estreitar os laços com um país que considera um contrapeso-chave em relação à China na região, enquanto diminui a influência russa. Empresas americanas de equipamento militar como Boeing e Lockheed Martin veem a oportunidade de lucrar bilhões de dólares em negócios em um país que, historicamente, escolheu fornecedores russos e europeus.
A Índia planeja comprar até 110 caças, um negócio estimado em 15 bilhões de dólares que a Boeing e a Lockheed buscam fechar com parceiros indianos. Além dos russos, cujos caças MiG formam o pilar da Força Aérea indiana, as empresas americanas enfrentarão concorrência de companhias francesas e suecas.
O governo indiano está exigindo que a maior parte dos aviões comprados sob o novo contrato seja montada na Índia.
A Índia quer que as empresas estrangeiras transfiram tecnologias-chave aos parceiros locais, para que, eventualmente, eles passem a produzir tudo por conta própria.
A Boeing, que pretende submeter à proposta seus caças F/A-18 Hornet, anunciou que estabeleceria parceria com a estatal de aviação Hindustan Aeronautics Limited e um dos maiores conglomerados empresariais indianos, o Mahindra Group, para construir os aviões no país. Em um estande de um evento de negócios de equipamentos militares, a Boeing oferecia aos visitantes um simulador de voo dos caças Hornet.
A Lockheed estabeleceu uma parceria com a Tata Sons, outro conglomerado indiano, para concorrer com seus F-16. Como parte da proposta, a Lockheed ofereceria a transferência de sua linha de produção de F-16 para fabricar os aviões juntamente com a Tata.
Após a Índia obter sua independência, em 1947, o país decidiu utilizar principalmente fabricantes estatais de equipamento militar. Mas essas empresas têm um histórico inconstante de qualidade, execução e inovação tecnológica. Em alguns casos, os militares indianos se recusaram a comprar produtos fabricados localmente, reconheceu a ministra da Defesa, Nirmala Sitharaman. “A decisão final é deles, e eu tenho de respeitar”, afirmou.
Portanto, a Índia tem estimulado o crescimento de empresas privadas de equipamentos militares, seja entre gigantes da indústria, como a Tata e a Mahindra, ou entre centenas de pequenas e médias empresas.
O governo indiano também está exigindo que empresas estrangeiras de equipamentos militaresreinvistam 30% do valor de seus contratos dentro do país, uma meta que, segundo Modi, foi atingida durante seu mandato.
A Tata, que está envolvida em diversos setores, de fabricação de caminhões à consultoria administrativa, tem muito a aprender a respeito de negócios de equipamento militar, afirmou Banmali Agrawala, diretor das áreas de infraestrutura, defesa e aeroespacial da empresa. Parcerias com a Boeing e a Lockheed, segundo ele, são passos importantes.
“Queremos garantir que tudo que produzirmos seja competitivo globalmente e atenda a padrões globais”, afirmou. “Vamos primeiramente ganhar expertise, nos conectando à cadeia global de produção.”