PUBLICIDADE

Raro ecossistema colombiano é ameaçado por exploração de petróleo

Rio Caño Cristales, também conhecido como 'arco-íris derretido', pode sofrer danos causados pela perfuração petrolífera na Colômbia

Por Murray Carpenter
Atualização:

LA MACARENA, Colômbia - Ángela Díaz, de pé numa saliência da rocha sobre um riacho chamado Caño Piedras, apontou para uma árvore cor de azeitona que crescia embaixo. A Macarenia clavigera, segundo ela, é a chave do futuro dessa remota região da Colômbia central.

PUBLICIDADE

Quando as chuvas vierem em maio, o nível dos rios subirá e a planta vai adquirir uma cor vermelha brilhante. "Esta planta tem a qualidade peculiar de assumir cores diferentes", acrescentou.

A água límpida ganha vida com a M. clavigera vermelha, que corre sobre as pedras marrons do Escudo da Guiana, e a cada ano cria um espetáculo de cores brilhantes. Caño Cristales, um rio próximo, tornou-se uma importante atração turística, apelidada de "o rio das cinco cores" ou "o arco-íris derretido".

As águas coloridas do Caño Cristales atraem milhares de turistas a uma área remota onde outrora operava um exército de guerrilheiros. Foto: Federico Rios Escobar para The New York Times

Ángela, bombeira de profissão, que trabalha durante sua temporada de férias como guia turística local, também observou uma infiltração cor de alcatrão que mancha a pedra do rio. Este é outro motivo pelo qual a região está chamando a atenção: o petróleo.

Uma companhia do Texas esperava perfurar campos petrolíferos a oeste deste ecossistema único. Agora, uma disputa surgida entre a companhia e o governo colombiano deverá ir para os tribunais.

O ponto focal da região é La Macarena, uma cidadezinha na margem do grande Rio Guayabero. Durante dezenas de anos, a guerra do governo com as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia, a guerrilha armada conhecida como FARC, tornou muito perigosa uma visita a este lugar. Agora, depois da assinatura de um acordo de paz em 2016 e do abrandamento do conflito, os turistas começam a chegar. Mais de 15 mil visitaram a área o ano passado, e Ángela é uma das cerca de 130 guias locais.

Em 2009, a Hupecol, uma subsidiária colombiana da Dan A. Hughes Company de Beeville, Texas, deu início a estudos sísmicos em busca de petróleo na área arrendada perto da cidadezinha de San Vicente del Caguán, a oeste daqui.

Publicidade

Em 2016, o governo colombiano revogou o arrendamento na tentativa de proteger a área. A medida foi bem recebida em La Macarena, onde, segundo o prefeito Ismael Medellin Dueñas, os moradores estavam preocupados com o possível impacto ambiental da exploração de petróleo. A economia local se baseia nos laticínios, na agricultura e no ecoturismo.

Os cientistas procuram aprender mais sobre esse ambiente único, em que onças e gatos-maracajás perambulam pela savana e pela selva, e os botos nadam no rio Guayabero.

Carlos Lasso, pesquisador do Humboldt Institute, uma ONG que estuda a biodiversidade da Colômbia, é um dos autores de um guia sobre a fauna de Caño Cristales, parte de um estudo de quatro anos. Recentemente, ele chefiou uma expedição em canoas de duas semanas de duração para analisar os rios Duda, Guayabero e Losada. A equipe identificou mais de 50 espécies de aves aquáticas, quatro de cobras aquáticas e cerca de 150 de peixes, inclusive três que talvez sejam novas para a ciência. Também encontraram crocodilos no Orinoco, uma espécie particularmente ameaçada que pode chegar a sete metros de comprimento.

A M. clavigera tem papel fundamental principalmente porque atrai o turismo que impulsiona a economia. A planta é endêmica das águas cristalinas, ácidas, pobres de nutrientes que fluem de Serrania de la Macarena, uma cadeia de montanhas isolada a leste dos Andes. "Trata-se de um ecossistema único", disse Lasso, "mas muito frágil".

PUBLICIDADE

Ángela María Rodríguez, uma gerente da Hupecol, destacou que há muita desinformação a respeito do projeto petrolífero. Para começar, afirmou, a área arrendada para a exploração de petróleo da Hupecol está longe de Caño Cristales.

"Não há qualquer possibilidade de um impacto, porque fica a 68 quilômetros de distância", afirmou Ángela. A companhia não tem qualquer interesse em extrair petróleo por fraturamento hidráulico, somente pela perfuração de petróleo convencional, acrescentou.

Agora, surgiu uma complicação. Um grupo de dissidentes das FARC, que não depuseram as armas no recente acordo de paz, continua ativo nesta área. "No momento, não sabemos se será possível perfurar um poço naquela região", disse Ángela, referindo-se à situação de instabilidade.

Publicidade

Javier Francisco Parra, um coordenador da agência governamental regional Cormacarena, reconheceu que a zona arrendada à Hupercol não é próxima do Caño Cristales, mas explicou que é difícil saber se representará uma ameaça direta ao rio.

Quanto a Ángela Díaz, ela deixou clara sua posição e a de seus colaboradores na controvérsia local. "Nós, os guias, não queremos a perfuração de petróleo", afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.