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Tarifas sobre o aço chinês aumentam custos de produção de empresas americanas

Fabricante preocupado indaga: “Quanto tempo ainda poderemos resistir?”

Por Eduardo Porter
Atualização:

Sediada em McKeesport, Pensilvânia, a companhia fabrica tanques sem emenda para o armazenamento de gases a alta pressão - cilindros de aço de até seis toneladas que ela vende também à Marinha e à NASA, a agência espacial dos Estados Unidos. Ela acaba de receber a primeira conta da tarifa de 25%que o presidente Donald J. Trump impôs ao aço da China e de alguns outros países: $ 178.703,09 sobre uma remessa de tubos de aço no Porto de Filadélfia.

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É o equivalente ao pagamento de duas semanas de trabalho dos funcionários. As tarifas sobre os tubos de aço que a companhiaencomendou na China representarão um aumento de $ 500 mil aos custos da matéria prima, somente em seis meses.

“Por quanto tempo vamos conseguir resistir?” indagou Michael Larsen, o diretor executivo da companhia. “Não sei. Podemos afundar relativamente depressa”.

A tarifa representará um acréscimo de cerca de 10% ao custo dos cilindros da CP Industries, que poderiam ser vendidos a $ 35 mil. Enquanto isso, as concorrentes estrangeiras já estão se precipitando para levar alguns dos maiores clientes da companhia. “Ainda não perdemos um cliente grande, mas a discussão sobre quem irá pagar pelas tarifas já começou”, disse Larsen.

O que mais o aborrece é o fato de que ele provavelmente acabará perdendo negócios para a maior rival da companhia na China, a Enric Gas Equipment Company de Shijiazhuang, que também fabrica tanques gigantescos. Observando que os produtos da Enric são importados de acordo com uma classificação não sujeita à tarifa, um release da CP acrescentou: “É impossível para a CP competir com a sua concorrente chinesa nesta base”.

É a isto que os economistas se referem quando advertem sobre os custos do protecionismo. Uma tarifa destinada a proteger um setor significa um imposto sobre todos os seus clientes. As tarifas sobre o aço taxam a indústria de tecnologia muito avançada do país - montadoras, empresas aeroespaciais, fabricantes de tanques para o armazenamento de hidrogênio a ser usado nas células de combustível - para pagar pela proteção de uma indústria velha que produz matéria prima.

As tarifas sobre o aço chinês aumentaram os custos de produção na CP Industries, uma fábrica da Pensilvânia que faz cilindros de aço. (Ross Mantle/The New York Times) Foto: Ross Mantle para The New York Times

Larsen compreende perfeitamente a difícil situação das siderúrgicas americanas. Emborahoje seja propriedade da Everest Kanto Cylinder, sediada em Mumbai, na Índia, a CP Industries tornou-se uma empresa independente em um desmembramento da U.S. Steel, em 1989. No entanto, não faz muito sentido obrigar a companhia a comprar o seu aço internamente. Nenhuma companhia dos EUA produz tubos suficientemente grandes para fazer os contêineres de seis toneladas que são a marca registrada da empresa.

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A companhia calculou que só poderia adquirir internamente 20% dos tubos de aço de que necessita. Além disso, o tubo nacional é entregue em tamanhos aleatórios e precisa de fresagem, corte e testes adicionais, o que eleva os custos do processamento em cerca de 16%. E ainda, os tubos chineses são muito mais baratos entregues na Filadélfia: eles custam $ 1.680 a tonelada métrica, enquanto a U.S. Steelcobra $ 2.728 a tonelada métrica em suas instalações em Lorain, Ohio. Uma tarifa de 25% não cobrirá a diferença.

Uma opção é o aço alemão. Mas levará tempo para mudar de fornecedores. E o aço alemão será mais caro.

Há ainda o lobby. A CP Industries está trabalhando para conseguir uma delegação no Congresso da Pensilvânia para apoiar uma isenção. Ela também poderia transferir o processo de fabricação no exterior a fim de evitar as tarifas sobre o aço.

“Temos uma lista de ideias que poderíamos pôr em prática”, disse Larsen. “Mas nada que seja mais eficiente do que o que estamos fazendo agora. E significará menos valor agregado nos Estados Unidos”.

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Por outro lado, Larsen não é um defensor fervoroso do livre comércio a todo custo. Há seis anos, quando ele estava na Taylor-Wharton International, uma fabricante de tanques menores para gás a alta pressão, ele se associou à Norris Cylinder em uma ação antidumping contra as concorrentes chinesas, e ganhou. O governo impôs uma taxa anti-dumping às importações chinesas para equilibrar as condições.

Ele gostaria que essa estratégia fosse usada contra suas novas concorrentes chinesas. Mas Trump cortou a estratégia pela raiz: O dumping - a venda abaixo dos custos a fim de tirar os concorrentes do negócio e ganhar uma parcela maior de mercado - não é necessário se você de repente obtém uma vantagem de custo de 10%. Esta é mais ou menos a margem que as tarifas sobre o aço dão aos fabricantes dos tanques de gás a alta pressão na China.

“Na atual situação”, lamentou Larsen, “eles não podem ser superados”.

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