Tempestades castigam florestas e são um desastre para o clima

Os furacões também podem modificar as florestas de forma permanente, enquanto o mundo continua a aquecer

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Por Henry Fountain
Atualização:

RIO GRANDE, Porto Rico - Quando o Furacão Maria castigou Porto Rico, em setembro, arrancou telhados, inundou bairros inteiros e praticamente destruiu a rede elétrica da ilha. Mas também afetou profundamente a natureza, arrasando grande parte da Floresta Nacional de El Yunque, 11.300 hectares de uma luxuriante floresta tropical a leste da capital, San Juan.

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Um grupo de pesquisadores, que desciam recentemente a montanha por uma trilha bastante íngreme, constatou a destruição em toda a volta. Chefiados por María Uriarte, ecologista da Universidade Columbia, de Nova York, eles estavam aqui para estudar os danos e compreender melhor de que maneira o aumento previsto de temperaturas extremas poderá comprometer a capacidade da floresta de ajudar o clima.

Antes do furacão, este lado da montanha estava à sombra de um dossel de vegetação que bloqueava grande parte da luz solar. Mas os ventos derrubaram muitas destas árvores frondosas, arrancaram os galhos de outras e cortaram completamente os ramos mais flexíveis das palmeiras. A encosta, agora, se abria para o céu.

"Todos os modelos globais do clima estão prevendo que teremos furacões ainda mais fortes", disse a María, que estuda há 15 anos as florestas de Porto Rico . "Então, o que isso significa para a composição da floresta?".

As árvores retiram da atmosfera o dióxido de carbono. Em todo o mundo, as florestas são verdadeiros depósitos, ou sumidouros de carbono, elas retiram de um a dois bilhões de toneladas deste gás da atmosfera a cada ano. Trata-se de uma porção substancial dos 10 bilhões de toneladas de carbono bombeadas no ar pela queima de combustíveis fósseis e por outras atividades humanas.

Voluntários recebem instruções para avaliar os danos nas árvores em um projeto chefiado pela ecologista María Uriarte. Foto: Erika P. Rodríguez para The New York Times

Quando uma floresta é danificada, a vegetação morta se decompõe, devolvendo o carbono para a atmosfera. Um estudo dos danos provocados pelo Furacão Katrina de 2005, constatou que a tempestade matou ou danificou gravemente 320 milhões de árvores que continham cerca de 100 milhões de toneladas de carbono.

À medida que as florestas começam a se recuperar, a mescla de espécies frequentemente será diferente - em uma floresta tropical como El Yunque, por exemplo, as espécies que prosperam à luz plena tendem a predominar até que o dossel volta a crescer. As árvores também são mais novas e menores, portanto a floresta em recuperação armazena menos carbono.

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Se este ciclo de danos e recuperação - o que os ecologistas chamam de regime de perturbação - ocorre mais frequentemente quando as tempestades extremas se tornam mais frequentes, algumas florestas às vezes nunca conseguirão recuperar-se completamente. Ao longo de dezenas de anos, a redução do carbono armazenado pode tornar-se permanente.

"Se o clima se tornar mais quente, devemos esperar um aumento dos regimes de perturbação?", perguntou Jeffrey Q. Chambers, geógrafo da Universidade da Califórnia, em Berkeley. "Isso poderá influir na capacidade destes sistemas de retirarem o CO2 da atmosfera".

Contar as árvores danificadas mesmo em uma floresta de dimensões reduzidas é praticamente impossível. Por isso, os pesquisadores dependem das imagens de satélites, ou de medições à base de laser feitas em aeronaves.

Chambers estima que entre 23 milhões e 31 milhões das árvores morreram ou foram gravemente danificadas pelo Furacão Maria.

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A ideia foi, então, usar um aparelho de GPS de grande precisão para fazer corresponder a mesma área no solo a uma imagem do satélite Landsat da floresta. Localizando com precisão uma destas áreas na floresta, os pesquisadores puderam avaliar a condição atual das árvores que resistiram e relacioná-la à cor na imagem. Isto contribuirá para melhorar o software, e, portanto, as estimativas dos danos em toda a ilha.

Uma vez localizado o centro do quadrado com o instrumento de GPS, os pesquisadores dividiram a área em quartos e percorreram cada quarto, parando a cada árvore para avaliar as suas condições. Mais perto de El Verde, oito voluntários estavam realizando um trabalho semelhante em 16 hectares de floresta divididos em uma grade de 400 lotes.

Os danos foram piores ainda ali. A maior parte das palmeiras ainda estava de pé, e em quase todas elas, duas ou três pequenas folhas ainda saíam do topo. Mas Maria simplesmente derrubou algumas das outras árvores, deixando uma intricada confusão de troncos caídos com as raízes para fora da terra. 

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Enquanto muitas áreas estavam completamente destruídas, outras nas proximidades pareciam ter sido apenas tocadas, dependendo da elevação, da orientação e de outros fatores, constataram María Uriarte e a sua equipe.

"Uma das coisas que observamos nas florestas devastadas por furacões mais fortes é que, no fim, resta uma floresta de dimensões reduzidas, de árvores mais baixas, o que significa com menos carbono em geral", disse. Uma das grandes questões é se isto acontecerá aqui em Porto Rico.

"Vamos perder algumas das espécies? Outras espécies se tornarão mais comuns?", ela questionou. "Estamos tentando entender esta variação, e uma parte da nossa tarefa consiste em reconhecer como elas reagem aos danos".

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