Uma cena passou quase despercebida aos olhos da imprensa internacional, durante a 63.ª Assembléia Geral das Nações Unidas: a delegação americana levantou-se, virou as costas e deixou vazios seus lugares no plenário durante a fala do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, mantendo apenas um funcionário no local para fazer anotações.
A Assembléia é o principal fórum de debate da ONU e o único que reúne os representantes de todos os países-membros uma vez por ano na sede da organização em Nova York. Ao sair, os diplomatas americanos perderam pelo menos uma chance valiosa: a de mostrar ao mundo que estão, de fato, dispostos ao diálogo com um ameaçador Irã. Pelo contrário, sinalizam só estarem dispostos a ouvir quando o outro lhes agrada, atitude que fere a própria natureza da diplomacia.
Ahmadinejad, muito esperto, mudou o tom do discurso de outros anos e falou, pela primeira vez, em diálogo. Em entrevista ao apresentador Larry King, da CNN, disse que estaria disposto a debater sobre relações internacionais com os dois candidatos à presidência, Barack Obama e John McCain, ao vivo e diante das câmeras para toda a imprensa internacional. Xeque-mate.
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Como não poderia deixar de ser em se tratando de seu estilo, o presidente iraniano não deixou de fazer uma de suas provocações. Disse que "o Império Americano está chegando ao fim e seus próximos líderes devem limitar sua interferência às fronteiras do país". E não havia ninguém nas cadeiras destinadas à delegação americana para marcar presença.
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Levantar-se e sair parece estar se tornando prática, copiada pelos britânicos e franceses. Membros das três delegações deixaram a sala de reunião no meio de um encontro a portas fechadas, ainda na Assembléia Geral da ONU, após o presidente da Líbia comparar a situação humanitária em Gaza aos campos de concentração da 2.ª Guerra Mundial. Provocações qualquer um pode fazer, mas aceitá-las ou não é o que separa o joio do trigo no campo da diplomacia. Na arte das negociações internacionais, como definida a diplomacia no dicionário Oxford e no Aurélio, é preciso "delicadeza e finura, astúcia e habilidade" no trato.
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A diplomacia é um exercício de "persuasão contínua" para a busca de soluções mutuamente aceitáveis no caso de conflitos de interesses entre sujeitos de direito internacional, como definido em artigo da Universidade de Coimbra.