É um conflito antigo, o colombiano. Mas nem por isso menos ativo. Eram 4,9 milhões de deslocados em 2012. Em dois anos, quase 1 milhão de pessoas engrossaram as estatísticas. Pessoas que muitas vezes fogem deixando tudo o que têm para os criminosos.
Embora o índice de homicídios seja o menor desde os anos 90, com 30,8 mortes por 100 mil habitantes, a Colômbia ainda está entre os dez países com as maiores taxas desse crime. Enquanto a capital, Bogotá, celebra os menores índices, cidades como a portuária Buenaventura, no Valle del Cauca, tem o dobro da média nacional de homicídios.
"A violência afeta as mulheres particularmente na Colômbia. Os estupros, os esquartejamentos se tornaram arma de guerra para demarcar território e servem para humilhar a gangue rival", disse por telefone a colombiana Gloria Amparo Arboleda Murillo (acima), da ONG Rede Borboletas. Ela trabalha na defesa das vítimas do conflito armado em Buenaventura, que abriga o maior porto da Colômbia e é disputada pelos narcotraficantes. Somente no primeiro semestre deste ano, 11 mulheres foram mortas na cidade.
A Rede Borboletas é a ganhadora do Prêmio Nansen para Refugiados 2014, espécie de Nobel humanitário, anunciado hoje em Genebra pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Dessa vez, porém, ela decidiu não fugir. A forma que Luz encontrou de fazer as pazes com o passado foi unindo-se a mulheres em situação semelhante. São elas que formam a Rede Borboletas. As voluntárias percorrem os bairros mais perigosos de Buenaventura oferecendo às vítimas da violência cuidados médicos e psicológicos, e orientação sobre como denunciar os criminosos. Embora não tenham a proteção especial do governo, a visibilidade que ganharam com o trabalho em rede e a denúncia sistemática dos criminosos à Justiça serviu-lhes de escudo, ainda que frágil. Nos últimos quatro anos, mais de 1 mil mulheres passaram pela ONG. "Só o fato de o governo admitir a gravidade da situação em Buenaventura e passar a registrar os assassinatos, antes anônimos, já é um avanço para nós", disse Glória.
Criado em 1994, o Prêmio Nansen reconhece o trabalho de organizações que lidam com refugiados. A ONG recebe R$ 100 mil para financiar um projeto que complemente seu trabalho.