adrianacarranca
14 de abril de 2015 | 10h36
O desenho animado “A vingadora de burca”, de produção paquistanesa, é uma boa notícia vinda do mundo muçulmano. Primeiro, porque é escrito e dirigido por um muçulmano, o ídolo do rock no Paquistão e ativista social Aaron Haroon Rashid. Não corre, portanto, os riscos de uma visão da realidade distorcida pelo olhar estrangeiro. A série traz a heroína Jiya. Ela defende as meninas de crimes e injustiças usando uma burca que lhe dá superpoderes.
De uma forma criativa e transformadora, a série traz mensagens sobre direitos das crianças e igualdade entre homens e mulheres e tenta vencer barreiras impostas por costumes ultrapassados ainda em vigor no país. E faz isso com uma linguagem bem local. A burca, que se tornou símbolo da opressão feminina, é no desenho o instrumento que dá poder a uma heroína em defesa de meninas e mulheres. As armas usadas por Jiya têm o formato de lápis e canetas.
No país da mais jovem Nobel da Paz, Malala Yousafzai, baleada pelo Talibã por defender o direito das meninas de ir à escola, a série infantil foi sucesso imediato, à revelia dos terroristas.
O desenho foi nomeado para o Emmy, levou prêmios importantes e já chegou aos canais da Índia e do Afeganistão, transmitido em inglês, híndi, tâmil, telegu e dari. A revista Time classificou a heroína da série infantil como uma das mais influentes personagens de 2013, ano em que o primeiro episódio foi lançado. Rashid, o diretor, prepara agora o lançamento mundial da série.
Fonte: Thomson Reuters Foundation
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Em viagem ao Paquistão, em 2012, encontrei meninas de até 5 anos entregues para se casar em troca do perdão da família em disputas tribais (leia reportagem minha na revita Foreign Policy). As meninas “swara” são também tema da série animada e esse costume perverso agora é alvo da heroína Jiya.
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Veja quais são as vestes usadas por mulheres muçulmanas em diferentes países. O desenho está no livro O Irã sob o chador (Ed. Globo), que escrevi em 2010 com Márcia Camargos.