É difícil explicar o Irã. Mas, duas coisas ficam evidentes em visita ao país. A primeira é que o Irã é visto, de fora, pelas lentes de sua política externa e de um radicalismo que não encontra eco na população. A segunda é que esse Irã que conhecemos hoje é o Irã dos últimos 28 anos, desde a Revolução Islâmica.
Uma pequena fração, portanto, de 4 mil anos da história de um povo que fala o mesmo idioma, o farsi, desde então. É o país de Hafez, o "poeta do amor", de 1.300 d.c. e cultuado até hoje, dos vinhos de Shiraz, cidade ao sul que deu nome à uva, e do zoroastrismo. No século 7, o islã foi adotado com a invasão árabe. Mas, não a teocracia.
Esta veio em 1979, conseqüência de um processo político iniciado com o golpe de estado, apoiado pelos americanos, que depôs o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, eleito democraticamente, e manteve por mais de vinte anos o reinado do Shah Reza Pahlevi, culminando com a Revolução Islâmica liderada pelo Aiatolá Khomeini.
Até então, elas vestiam (até!) minissaia. O Irã aprovou a Constituição em 1906 e foi um dos primeiros países a emancipar a mulher, em 1935. As leis atuais constam de um Código Civil, baseado em uma interpretação da sharia. Hoje, as mulheres lutam por igualdade de direitos. Mas, também estudam, trabalham, jogam futebol (sim, senhor!)... e adotaram o hijab, cada qual à sua maneira, embora o Estado tente controlar as mais ousadas.
Fotos: jovens que eu entrevistei em Teerã
Os iranianos também viajam. Jovens de classe alta vão estudar ou passar férias na Europa. Acadêmicos participam de encontros internacionais, assim como os cineastas. E tem a Internet, ainda que controlada. Não são, portanto, um povo isolado, como se pensa.
Colocar os fatos dentro de um contexto histórico mais amplo ajuda a entender o que torna o país tão complexo, heterogêneo e, por tudo isso, tão fascinante. Um povo não pode ser julgado por um período particular de sua história. Seria o mesmo que olhar as duas décadas de nossa ditadura militar e dizer que o Brasil é aquilo.
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