É a liberdade, estúpido! A mensagem dos egípcios para os EUA e o mundo

Para quem lê em inglês, a Foreign Policy reúne alguns dos melhores artigos sobre os protestos no Egito. A revista perguntou a quatro especialistas como os Estados Unidos devem responder à crise.

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Por adrianacarranca
Atualização:

Shadi Hamid (How Obama Got Egypt Wrong), diretor de pesquisa da think tank Brookings Doha Center, em Washingon, durante décadas os EUA priorizaram a suposta estabilidade do Egito em detrimento de reformas políticas necessárias para instaurar a democracia no país. "Os que defendem que os EUA não devem interferir (na crise) têm de lembrar que o silêncio será interpetado como cumplicidade pelos egípcios", diz.

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A política americana no Egito, afinal, não tem nada de neutra. Os EUA são a principal fonte de recursos do governo Mubarak. E deveriam usar isso para pressionar o presidente egípcio por reformas, como defende Hamid. A pergunta é: os EUA querem a demcracia no Egito? A administração Obama está disposta a assumir o risco de perder seu aliado no Oriente Médio pelos ideiais de liberdade e democracia que tanto defende? É o que discute Sherif Mansour (It's Freedom, Stupid), da Freedom House, uma watchdog independente.

É a hora da verdade. E a verdade, lembra Emad Shahin (Obama Still Doesn't Know What To Do About Arab Autocrats), professor de religião da Universidade Notre Dame, é que o governo Mubarak parecia estável graças à repressão massiva, enfraquecimento das organizações da sociedade civil e apoio financeiro dos aliados do Ocidente - realidade não muito diferente da Jordânia, Tunísia e Iêmen, cujos regimes também estão sendo desafiados pelos protestos da população.

Não se colocar do lado daqueles que querem a liberdade e a democracia, nesse momento, pode manchar ainda mais a imagem já desacreditada dos Estados Unidos no Oriente Médio e o sentimento anti-americano que prevalece na região graças, entre outras coisas, às guerras no Iraque e Afegaistão, acredita Shahin.

Não há dúvida de que Mubarak está preparado para lutar, como coloca Daniel Brumberg (Mubarak Is Prepared to Fight). Mas a desculpa para apoiar o ditador era a ameaça de que os islamistas da Irmandade Muçulmana, considerada uma organização terrorista por alguns países, como Israel, fosse colocado no poder pelos eleitores. O argumento foi por terra com os protestos dos últimos dias. Como diz Brumberg, "o novo cenário social no Egito define-se por uma aliança de jovens raivosos cuja identidade política não pode ser reduzida à religião ou fé".

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Como eu já coloquei nesse blog anteriormete, assim como a escolha dos palestinos pelo Hamas, o grupo que controla a Faixa de Gaza, o apoio à Irmandade Muçulmana no Egito é mais um voto de protesto contra Mubarak do que a vontade da população de trocar uma ditadura por um regime radical islâmico. Uma vez que Mubarak saia de cena e os partidos seculares puderem atuar livremente, esse apoio tende a diminuir.

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O título do post, de um dos artigos da Foreign Policy, foi inspirado no slogan "It's the Economy, stupid!", usado na campanha vitoriosa do presidente Bill Clinton, em 1992, contra o adversário George Bush (o pai), que não teria lidado adequadamente com a economia do país, em fase de retração.

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