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COMO REERGUER UM PAÍS RESUMIDO A ESCOMBROS? Adriana Carranca Com a chegada dos reforços militares, da água, comida e médicos ao Haiti, a pergunta é: como avançar a partir de agora? Por onde começar a reconstruir uma nação resumida a pó e escombros? O futuro do país caribenho se configura como o maior desafio dos haitianos e um teste definitivo à capacidade da ONU e dos países ricos de reerguer Estados falidos.
Desde a 2ª Guerra, o conceito ainda novo de "state building" (reconstrução de um Estado pela comunidade internacional, em geral após conflitos armados) se deu em países como Timor Leste, Bósnia, Kosovo e, recentemente, Iraque e Afeganistão ? em nenhum deles, porém, foi bem-sucedida, embora ainda existisse vestígios do Estado nestes locais. Já o Haiti, como nação, organizada politicamente, com um Estado soberano e instituições autônomas, acabou. No lugar da antes instabilidade, não sobrou um mínimo de infraestrutura básica.
A situação é tão dramática que os analistas se dividem entre os que não querem falar em reconstrução "porque não se pode reconstruir aquilo que já não existia" ? como afirma o cientista político Eduardo Nunes, diretor para América Latina e Caribe da organização internacional Visão Mundial ? e os céticos, capitaneados pelo economista americano e colunista do jornal The New York Times Tyler Cowen, que assegura: "O Haiti acabou."
Ao Estado, Cowen sugeriu um consórcio de países para receber os 3,2 milhões de haitianos de Porto Príncipe como imigrantes. Mais ou menos na linha do que sugere a expressão "o último que ficar apaga a luz". Exceto pelo fato de que no Haiti não há luz - a rede de energia, antes precária, foi destruída - e o único aeroporto funcional opera emergencialmente sob comando das Forças Armadas americanas.
"O presidente sobreviveu, mas o Estado não existe mais", diz Tyler. Analistas menos radicais têm trabalhado com a perspectiva de êxodo de 400 mil haitianos de Porto Príncipe para regiões menos afetadas. O problema é que estas também não dispõem de infraestrutura. Teme-se que, no longo prazo, essas áreas se tornem campos de refugiados permanentes. Cinco anos após o furacão Katrina, milhares ainda não puderam voltar para casa em Nova Orleans. E isso nos EUA.