Mais pressão dos EUA, mais apoio aos aiatolás

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Por adrianacarranca
Atualização:

A reza de sexta-feira é o mais importante evento religioso da semana no Irã. No tocante à fé, é equivalente à missa dominical para os católicos. Mas, em um estado teocrático, onde religião e política se misturam, é também o momento quando os líderes desde a Revolução Islâmica, de 1979, sobem ao palanque para transmitir mensagens nas quais o povo deve se guiar - ou, no mínimo, têm a chance de saber para onde o país caminha. Quando este líder é o aiatolá Ali Khamenei, suas palavras soam como lei aos ouvidos dos iranianos e repercutem mundo afora.

Foi assim, hoje, quando o líder supremo comparou Bush a Hitler e Saddam e pediu que o presidente americano seja julgado num Tribunal Internacional pela 'catástrofe' no Iraque. Ao afirmar que os Estados Unidos usaram o 11 de setembro para tentar atingir seus objetivos de domínio na região, Khamenei fala ao coração de todos os iranianos.

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Ao contrário do que se pensa, os iranianos não têm nada contra os americanos - em 13 dias de pereguinação pelo País, não ouvi de ninguém, progressista, moderado ou conservador, palavras minimamente raivosas sobre o povo dos Estados Unidos. Mas, querem distância de seus líderes.

Altamente politizados, eles culpam a CIA por depôr o então presidente Mohammad Mossadegh, um herói nacional eleito diretamente, quando o país avançava para a plena democracia, que Bush hoje defende para legitimar a invasão no Iraque. Mossadegh foi deposto após nacionalizar o petróleo. Também se ressentem dos Estados Unidos por apoiar, durante a guerra entre Irã e Iraque, o mesmo Saddam Hussein que, mais tarde, Bush derrotou com a guerra.

Por isso, os iranianos não confiam em Bush. Durante uma visita ao País, uma coisa fica clara e me foi confirmada por unanimidade pelos especialistas com quem conversei, inclusive reformistas seculares: quanto mais pressão os Estados Unidos fizerem contra o Irã, mais unirá o país. "Os Estados Unidos deveriam atrair o Irã e não o contrário", me disse o pacifista iraniano Emadeddin Baghi. Leia a entrevista aqui. Muitos lutam pela separação de Estado e igreja e são contra os aiatolás no poder, mas será do lado deles que ficarão contra a ameaça externa.

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Fotos: o lado feminino da reza, na Universidade de Teerã, ao qual tive acesso na sexta-feira, 3 de agosto

Leia aqui o Dossiê Irã

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