Soube hoje da morte de um grande homem, Peter Townsend, meu professor de direito internacional na área da infância e juventude, na London School of Economics and Political Science (LSE). Curioso que eu, por algum daqueles motivos que não podemos explicar, lembrei-me esses dias de suas deliciosas aulas. Townsend não gostava de postar-se soberano na frente da classe e sempre pedia aos alunos que fizessem um círculo. Suas aulas não eram monólogos, mas debates, com espaço para a opinião de todos os alunos, a quem ele respondia em tom baixo, mas sem medir palavras. No que dizia respeito à defesa da justiça e igualdade, Townsend era implacável, inflexível.
Muitas vezes, tínhamos de repetir nossos argumentos, pois, então com 77 anos, seus ouvidos já lhe traíam. Mas, sua presença era uma honra para todos nós e os estudantes não apenas repetiam suas palavras quantas vezes fosse preciso como ouviam com respeito as críticas e correções do mestre. Ao contrário de artifícios como renda mínima e Bolsa Família, Townsend defendia a distribuição igualitária de recursos e oportunidades para todos.
Aquela classe me veio à mente dias atrás e eu pedi a uma amiga estudando atualmente na LSE notícias do professor. Assim, soube de sua despedida. Townsend morreu aos 81 anos, mais de 60 deles dedicados à universidade e à pesquisa sobre pobreza e desigualdade. Entre outras coisas, ele fundou o Centro Townsend de Pesquisa Internacional sobre Pobreza, na Universidade de Bristol. Fez parte da Sociedade Fabiana, organização política de esquerda, fundada na Inglaterra em 1884 e que ajudou a organizar o Partido Trabalhista. Contrários à doutrina de Marx, eles acreditavam que a transição do capitalismo para o socialismo se daria lentamente, por meio da educação e de ações da sociedade civil. Em 2004, Townsend foi eleito para a Academia Britânica.
Para nós, meros aprendizes, Townsend representava, acima de tudo, inspiração. Obrigada, professor!