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Contra conservadores, Hollande aposta no casamento gay

Por andreinetto
Atualização:

PARIS | O projeto de lei que legaliza o casamento homossexual na França, enviado pelo presidente François Hollande ao parlamento no mês de novembro, entrou nesta terça-feira, 15 de janeiro, em fase de debates nas comissões constitucionais da Assembleia Nacional - a câmara de deputados do país. Até o final do mês, a proposta, que também regulariza a adoção por casais gays, deve ser apreciada pelos deputados e senadores e, em caso de vitória do governo, resultará na alteração do Código Civil criado por Napoleão Bonaparte em 1804.

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Alterá-lo não tem sido fácil na França ao longo desses 200 anos. Polêmicas foram criadas em torno da lei que restabeleceu o divórcio em 1884, da que autorizou a pesquisa de paternidade, em 1912, e da que autorizou as mulheres a acionar a Justiça, em 1938. Segmentos importantes da sociedade francesa também foram contra a reforma dos regimes matrimoniais em 1965 e do fim da noção de "chefe da família", em 1970. Também havia resistências quando, em 1972, o código foi alterado encerrando as diferenças entre filhos "naturais" e "ilegítimos".

Por fim, até o presidente da República, Jacques Chirac, fez campanha contra o projeto do primeiro-ministro socialista com o qual tinha de conviver, Lionel Jospin, quando da criação da união civil estável, o Pacs, em 1999.

No domingo, 13 de janeiro, pelo menos 340 mil pessoas protestaram contra o projeto de lei que regulariza o casamento homossexual. Na massa compacta que se reuniu junto à torre Eiffel estavam pais e mães, católicos e alguns poucos muçulmanos, mas também políticos conservadores de direita e extrema direita. Estes últimos não só se manifestavam contra o projeto, mas também tentavam infligir ao governo Hollande uma derrota histórica de uma bandeira de campanha do Partido Socialista (PS). É isso mesmo: além da mobilização pública espontânea, legítima, também há interesses políticos simples, como o de impor um fracasso ao partido governista.

É justamente esse ponto que reforça a campanha pela legalização do casamento gay. Ainda fortalecido por uma maioria da população favorável ao projeto - sempre acima de 50%, segundo os institutos de pesquisa -, o governo Hollande não pretende recuar. Depois de abandonar promessas de campanha como a lei que autorizaria o voto de estrangeiros vivendo na França, o atual chefe do Palácio do Eliseu quer fazer do casamento homossexual um símbolo de seu compromisso com os votos que recebeu em maio de 2012.

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Daí as declarações feitas ontem pelos porta-vozes do governo em defesa do casamento homossexual. Desde as primeiras horas desta segunda-feira, líderes políticos do governo e do PS advertiram que a mobilização das ruas havia sido "consistente", mas não mudava em nada a disposição de aprovar a medida no parlamento, onde o governo é majoritário nas duas câmaras. Além dessa intenção firme, o governo poderá contar com o apoio das ruas no dia 27 de janeiro, quando organizações favoráveis ao casamento homossexual se manifestarão em Paris.

Em política, é sempre cedo para se fazer prognósticos. Mas a tendência, hoje, é de que a França adote o casamento homossexual e a adoção por casais de mesmo sexo ainda em janeiro de 2013.

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