As reservas do BC argentino estão encolhendo de forma persistente. Em dois anos a entidade monetária perdeu US$ 20 bilhões. E - tudo indica - a queda continuará nos próximos tempos.
As reservas do Banco Central argentino registraram uma queda de 24,7% desde janeiro deste ano. A entidade monetária, que possuía US$ 43,3 bilhões há onze meses, perdeu 10,69 bilhões de lá para cá, ficando em US$ 32,59 bilhões. O atual volume das reservas é US$ 20 bilhões inferior ao total que a entidade monetária teve como ponto culminante histórico, em janeiro de 2012, quando os cofres do BC continham US$ 52,49 bilhões. Na época do apogeu das reservas Cristina Kirchner iniciava seu segundo mandato presidencial.
Por trás desta queda significativa está a política do governo da presidente Cristina de usar as reservas do BC para conter a escalada do dólar no paralelo, cancelar os vencimentos dos títulos da dívida pública com credores privados, além de efetuar os substanciais pagamentos relativos à importação de petróleo e gás, já que o país padece uma intermitente crise energética desde 2004.
A presidente do BC, a economista Mercedes Marcó del Pont, afirmou na sexta-feira que a queda das reservas era devido ao pagamento da dívida (não citou os outros motivos). Segundo ela, foi um "investimento".
Consultorias econômicas na city financeira portenha afirmam que a queda continuará ao longo do ano que vem. Desta forma, o BC poderia ficar com US$ 25 bilhões de reservas no final de 2014.
A viúva negra perante o incrível homem que encolheu. A arácnida presença tentou papar o mini-Homo Sapiens mas este deu um jeito de escapar. Fotograma do emblemático filme de ficção científica "O incrível homem que encolheu", de 1957.
ENCOLHIMENTO PROSSEGUIRIA - Os economistas na city financeira portenha calculam que o BC passará o Reveillon com US$ 32 bilhões de reservas. Mas, para o ano que vem, a sangria de fundos prosseguiria.
Essa é a avaliação da consultoria Abeceb, a mais otimista sobre o cenário do BC, que calcula que as reservas poderiam baixar para US$ 27 bilhões em 2014. A Muñoz e Associados, a mais pessimista das consultorias portenhas sobre o BC, prevê uma redução maior, com as reservas na faixa de US$ 21 bilhões no final do ano que vem.
A maioria das consultoria, entre elas a Elypsis, estimam que as reservas baixariam para US$ 25 bilhões em 2014.
Segundo a consultoria Estudio Bein, a queda de reservas do BC está ficando "insustentável".
O ex-presidente do BC, Martín Redrado, afirmou que o país está "pagando as consequências de ter usado o Banco Central como um talão de cheques. Redrado ocupava a presidência da entidade monetária em 2010 quando a presidente Cristina quis utilizar as reservas para o pagamento de dívidas. Redrado negou-se a liberar os fundos e foi removido categoricamente por Cristina, que acusou o economista de "conspirar" contra o país.
CURRICULUM VITAE DE ALTOS E BAIXOS - Em 1989, durante a crise da hiperinflação, nos derradeiros meses do governo do presidente Raúl Alfonsín, o BC ficou quase vazio, com reservas de apenas US$ 600 milhões de dólares.
Nos anos 90 as reservas recuperaram-se durante a conversibilidade econômica implementada pelo presidente Carlos Menem (1989-99) e sua política de privatizações e endividamento no exterior. Na segunda metade dos anos 90 as reservas oscilaram entre US$ 30 bilhões e US$ 35 bilhões.
Em janeiro de 2001 as reservas chegaram a US$ 37,38 bilhões. Mas, em meados daquele ano a instabilidade política do governo de Fernando De la Rúa (1999-2001) provocou uma fuga de divisas que implodiu a conversibilidade. O BC teve que desprender-se da maior parte das reservas para tentar manter o sistema.
De la Rúa fracassou nas tentativas de evitar o agravamento da crise e o país colapsou em dezembro daquele ano. Ao longo de 2002 a Argentina mergulhou na pior crise econômica, política e social de sua História. Em julho daquele ano, durante o governo do presidente provisório Eduardo Duhalde (2002-2003), as reservas estavam em apenas US$ 8,8 bilhões.
Em 2003, no início do governo de Néstor Kirchner (2003-2007) as reservas do BC estavam em US$ 14 bilhões e recuperavam-se de forma persistente. Em 2006 chegaram a US$ 32 bilhões, enquanto que em 2007 atingiram a faixa de US$ 42,98 bilhões. No início de 2012 estavam US$ 52,4 bilhões. De lá para cá a queda foi permanente.
E música ad hoc, "Donde hay un mango?", uma 'ranchera' cantada pela tangueira Tita Merello:
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Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).