Foto do(a) blog

Os Hermanos

Casa Rosada lacônica sobre sigmoide presidencial (e o apreço pelos hospitais particulares)

A Unidade Médica Presidencial comunicou na quarta-feira à noite que a presidente Cristina Kirchner, em seu terceiro dia de internação, “está estável, cumprindo tratamento sintomático e com antibióticos”. Segundo os médicos, ela continuará internada no elegante Hospital Otamendi, no portenho bairro da Recoleta, para completar o tratamento e para que os médicos controlem sua evolução.

PUBLICIDADE

Por arielpalacios
Atualização:

Gravura antiga que exibe as vísceras de anônimo modelo. Quase embaixo, à direita, está o sigmoide, antes de chegar no reto intestinal. No sigmoide está o quiproquó que provocou a internação da presidente Cristina Kirchner.

PUBLICIDADE

Segundo o comunicado médico, após a alta a presidente "deverá manter repouso com controle na residência presidencial de Olivos" pelo prazo mínimo de dez dias.

No entanto, os médicos não contam com perspectivas para a alta da presidente. Segundo eles, "será outorgada no momento oportuno".

Desta forma, o governo Kirchner terá que cancelar a viagem que a presidente Cristina realizaria para a cidade de Brisbane, Austrália, onde será realizada nos dias 15 e 16 a reunião de cúpula dos governos dos países do G-20.

Cristina foi internada no domingo por um quadro febril infeccioso. Ela sofre de uma inflação no sigmoide, área do cólon, provocada por uma bactéria que entrou no sangue.

Publicidade

O colunista político Nelson Castro, do canal de TV "Todo Notícias" sustentou que, baseado em informações confidenciais que possui, os relatórios médicos oficiais "não revelam a real situação" da presidente. Segundo Castro - que além de jornalista é médico - os integrantes da equipe médica avaliam a eventual existência de uma perfuração no divertículo. Castro é autor de "Doentes de Poder", livro sobre as estratégias dos governos argentinos para camuflar as doenças dos presidentes da República.

O governo está mantendo estrito silêncio sobre a saúde da presidente, já que nem os ministros, secretários ou parlamentares pronunciaram-se sobre o assunto.

Ao contrário das ocasiões anteriores na qual foi internada em um hospital, desta vez Cristina não recebeu a visita de integrantes do governo. Além disso, escasseavam os militantes kirchneristas, outrora sempre presentes em vigílias pela recuperação da presidente.

GERADOR - Na rua Azcuénaga, a do próprio hospital, a companhia elétrica Edesur instalou um gerador para enfrentar eventuais falhas no abastecimento de energia elétrica nesse hospital de luxo no bairro da Recoleta. Buenos Aires e sua região metropolitana são o cenário de frequentes apagões elétricos, provocados pela crise energética que assola o país de forma intermitente desde 2004.

A presença do gerador causou polêmica na mídia e nas redes sociais, já que no mesmo dia de sua instalação, no domingo, no hospital municipal Iriarte, na cidade de Quilmes, na zona sul da Grande Buenos Aires, um apagão deixou médicos e pacientes às escuras por mais de uma hora. A falta de energia ocorreu quando os médicos já haviam iniciado uma operação em um bebê. A cirurgia teve que continuar sob a iluminação dos celulares de médicos e enfermeiras.

Publicidade

Por causa do apagão outras enfermeiras do hospital em Quilmes tiveram que ajudar de forma manual os bebês ligados aos tubos de oxigênio, enquanto que as mães tiveram que segurar em seus braços os bebês que estavam nas incubadoras, de forma a propiciar-lhes calor.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Em dezembro passado, durante uma série de apagões que afetaram diversas áreas da capital argentina durante três semanas, o secretário-geral da presidência, Oscar Parrili, no cargo desde 2003, conseguiu driblar a falta de energia graças a um gerador da companhia de eletricidade que foi instalado especialmente para uso do quarteirão onde reside, no bairro de Palermo. Mas, quando Parrilli partiu de férias o gerador foi removido, deixando de novo o quarteirão às escuras.

APREÇO PELOS HOSPITAIS PRIVADOS - Em 2003 o então presidente Néstor Kirchner (2003-2007) inaugurou com toda pompa a unidade de tratamentos presidenciais no hospital público Argerich, destinada ao atendimento do presidente da República e sua família, que contava com uma sala de reuniões para o gabinete de ministros. Mas, só foi utilizado duas vezes pelos Kirchners. Uma, em 2005, para um exame médico de Kirchner. Outra, em 2007, quando sua filha Florencia operou as amígdalas.

Posteriormente Néstor e Cristina sempre preferiram os estabelecimentos privados para seus tratamentos. Esse foi o caso das duas operações da carótida de Kirchner em 2010, feitas no Hospital Los Arcos; a cirurgia para extirpar a tireoide de Cristina realizada no Hospital Austral, da Opus Dei; além da operação de um hematoma no crânio da presidente em outubro do ano passado no Hospital Favaloro, entre várias outras internações menores e check-ups.

Paradoxalmente, há dois anos Cristina Kirchner declarou durante um discurso que "só existe um sistema de saúde público para valer quando os presidentes são atendidos em hospitais públicos".

Publicidade

DESAPROVAÇÃO - Uma pesquisa elaborada pela consultoria Mori indicou que 57,3% desaprova a gestão da presidente Cristina, enquanto que 37,5% aprovam a presidente. A pesquisa também sustenta que segundo 70,3% dos entrevistados a situação do país está "piorando". Somente 18,1% afirmam que a Argentina está "melhorando", enquanto que outros 9,6% consideram que a situação é "igual".

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou "Os Argentinos", pela Editora Contexto, uma espécie de "manual" sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu "Os Hermanos e Nós", livro sobre o futebol argentino e os mitos da "rivalidade" Brasil-Argentina.

No mesmo ano recebeu o Prêmio Comunique-se de melhor correspondente brasileiro de mídia impressa no exterior.

 
 

E, the last but not the least, siga @EstadaoInter, o Twitter da editoria de Internacional do Estadão.

 

......................................................................................................................................................................

Publicidade

Comentários racistas, chauvinistas, sexistas, xenófobos ou que coloquem a sociedade de um país como superior a de outro país, não serão publicados. Tampouco serão publicados ataques pessoais aos envolvidos na preparação do blog (sequer ataques entre os leitores) nem ocuparemos espaço com observações ortográficas relativas aos comentários dos participantes. Propaganda eleitoral (ou político-partidária) e publicidade religiosa também serão eliminadas dos comentários. Não é permitido postar links de vídeos. Os comentários que não tiverem qualquer relação com o conteúdo da postagem serão eliminados. Além disso, não publicaremos palavras chulas ou expressões de baixo calão (a não ser por questões etimológicas, como background antropológico).

 
 
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.